O deputado federal Alceu Moreira (MDB) anunciou na tarde desta quarta-feira, 23, a sua desistência de concorrer ao cargo de governador do Rio Grande do Sul. Em uma carta aberta, o político faz críticas indiretas, mas claras, ao colega de partido Gabriel Souza e ao governador Eduardo Leite (PSDB). A irritação do deputado federal vem de uma suposta interferência do governador, que teria influenciado na decisão de Souza de concorrer às prévias internas do MDB.
Leite e Souza se aproximaram nos últimos anos quando o emedebista foi presidente da Assembleia e teve forte atuação para aprovar os projetos do Executivo. Naquele momento as duas legendas conversavam sobre uma possível aliança, entendendo que os projetos do antecessor, José Ivo Sartori (MDB), e do atual governador eram complementares. Entretanto, a chegada de Souza à disputa gerou um racha interno no MDB, e também levou ao afastamento da possibilidade de aliança entre as duas legendas.
Atualmente, tanto MDB quanto PSDB afirmam que não abrirão mão da cabeça de chapa na eleição. Porém, os dois partidos estão indefinidos quanto ao nome que vai representar os partidos na disputa. Pelo lado tucano, a indefinição do futuro político de Leite é um entrave, o governador já disse que seja qual for seu destino, não concorrerá à reeleição. Por sua vez, a saída de Moreira abre espaço para Souza, mas o entrave está nas brigas internas que estão atrasando a decisão.
A carta assinada pelo deputado federal inicia refazendo a trajetória dele dentro do partido, e no mais forte, ao explicar os motivos da sua desistência de candidatura, ele fala sobre falta de lealdade. "Os acontecimentos dos últimos meses acabaram por minar essa ideia e confesso que me entristeceram profundamente, em especial pela falta de palavra e lealdade de quem menos podia esperar." A fala é uma referência direta a Gabriel Souza, que segundo Moreira havia garantido que não seria candidato ao Piratini.
Moreira e Souza têm a mesma base política, vindos do Litoral Norte, mas o primeiro é mais antigo dentro do partido e na ocupação dos cargos públicos. Mas como presidente da Assembleia, Souza se aproximou de Leite e foi apontado como o nome favorito do governador para a sucessão dentro do MDB, o que teria levado o deputado estadual a mudar de ideia quanto a disputa do Piratini.
Em razão dessa suposta interferência, Moreira não poupou também críticas diretas ao governo. "A máquina governista entrou em campo e interferências externas influenciaram numa disputa interna que não é de um partido qualquer, mas do maior do Rio Grande." Mesmo com as críticas e mágoa, Moreira não sinalizou que deixará o MDB, e disse que vai trabalhar em sua reeleição à Câmara dos Deputados.
<b>Idas e Vindas</b>
Moreira apresentou seu nome para concorrer ao Palácio Piratini já no início de 2021. Na época, presidente da legenda no Estado, despontava como candidato único. A decisão do partido chegou a ser marcada para o final do ano passado, mas por pressão de outras alas da sigla uma prévia foi marcada para fevereiro. Nomes mais antigos do MDB tentavam ainda convencer o ex-governador José Ivo Sartori a ser o candidato de consenso do partido.
Enquanto um grupo tentava convencer Sartori, Moreira e Souza colocaram o carro na rua e apostavam na campanha interna. A disputa, porém, criou um clima de conflito dentro do MDB. Uma reunião intermediada pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, no dia 2 de fevereiro, convenceu os dois candidatos a não registrarem suas chapas, o que aconteceria no dia 3 de fevereiro, com prévias previstas para o dia 19 daquele mês. Dois dias após a desistência do registro, Moreira se licenciou da presidência do partido.
Mas a desistência Moreira não pôs fim à crise interna do partido. Na manhã desta quarta-feira, lideranças históricas do MDB gaúcho, como Pedro Simon, divulgaram uma carta repudiando a ideia de que o candidato do partido seja escolhido pelo Diretório Estadual e não nas prévias. Apesar de toda a crise, o MDB garante que terá candidato próprio ao governo do Estado em 2022. O partido é o que mais governou o Estado desde a redemocratização, tendo eleito Pedro Simon em 1982, Antonio Britto em 1994, Germano Rigotto em 2002 e José Ivo Sartori em 2014.