Quatro deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) não compareceram à votação para decidir se o deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ) continuaria preso. Eles alegaram problemas de saúde e pediram licença médica na segunda-feira, 8, e na terça-feira, 9, às vésperas da sessão para tratar sobre o caso. Na noite desta quarta-feira, 10, a Câmara decidiu manter preso o suspeito de mandar matar a vereadora do Rio Marielle Franco.
A votação teve 277 votos favoráveis à manutenção da prisão, enquanto 129 foram contrários e 28 estavam lá, mas decidiram não votar. Outros 78 deputados não compareceram à sessão. Como eram necessários 257 votos para manter o congressista carioca na cadeia, foram apenas 20 de diferença que garantiram o resultado.
Os petistas que não compareceram à votação foram: Florentino Neto (PI), Luizianne Lins (CE), Waldenor Pereira (BA) e Washington Quaquá (RJ). Todos os 64 parlamentares do partido presentes votaram para Brazão continuar preso.
Vice-presidente nacional do PT, Quaquá afirmou à <i>Coluna do Estadão</i>, no dia da prisão de Brazão, em 24 de março, que era preciso ter "provas cabais" contra o também deputado do Rio para mantê-lo preso. A ausência e, consequentemente, o não endosso à manutenção da prisão preventiva do suspeito de mandar matar a vereadora motivaram pedido para a saída dele da direção da sigla.
Filiado desde 1980, o historiador Valter Pomar solicitou a inclusão na pauta da próxima reunião do diretório nacional do partido uma proposta pela redução do número de vice-presidências nacionais, que objetiva tirar Quaquá do cargo. Pomar já havia sugerido colocar o assunto em discussão no último dia 26, mas segundo ele, não foi atendido.
"Em decorrência disso (a não inclusão da pauta), somos obrigados a explicar porque um vice do PT não participou da votação sobre a prisão de Chiquinho Brazão. A falta de atitude de alguns, frente ao que diz e faz o Quaquá, está causando danos graves para todo o partido", disse.
Procurada pelo <b>Estadão</b>, a assessoria de imprensa de Quaquá afirmou que ele se ausentou da Câmara nesta quarta-feira, dia da votação, porque tem um atestado médico desde segunda-feira, 8, por uma "síndrome gripal".
A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do partido, não comentou a ausência dos correligionários nem a inclusão da pauta sobre Quaquá na reunião nacional do partido. Ela está na China e votou remotamente a favor da manutenção da prisão de Brazão.
Os outros deputados também alegaram problemas de saúde para justificar a ausência na sessão. A assessoria de Florentino Neto informou que ele está afastado da Câmara desde terça-feira, por um "problema sério de saúde", e que o próprio ambulatório da Casa atestou a situação. Na tarde desta quinta-feira, 11, em seu perfil do Instagram, o deputado fez uma postagem sobre uma reunião que participou nesta manhã, afirmando ainda estar se recuperando de uma virose.
O gabinete de Luizianne Lins disse que a deputada está afastada do trabalho durante toda a semana por conta de uma licença médica. O gabinete de Waldenor Pereira informou que ele está com suspeita de dengue desde terça-feira à noite e retornou ao seu Estado na quarta de manhã, motivo pelo qual não pôde registrar a presença na sessão. Mas, segundo a equipe, ele que seguiria a orientação do partido e votaria pela manutenção da prisão, caso estivesse possibilitado.
O líder da bancada do PT na Câmara, deputado Odair Cunha (MG), disse que não vai comentar as ausências da bancada. "Por um motivo simples: os quatro que não votaram estão de licença médica", afirmou, via assessoria. "Importante lembrar que o PT teve papel estratégico na votação na CCJ", disse, se referindo ao voto dos 10 parlamentares petistas.
Amigo de Marielle, o deputado federal e atual presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT-RJ), acompanhou a votação no plenário. Freixo disse ao <b>Estadão</b> que a vitória na votação foi fundamental. Sobre a ausência dos colegas na sessão, o carioca afirmou: "que cada um que explique sua ausência".
<b>Sete deputados do PL votaram para manter Chiquinho Brazão na cadeia</b>
Do outro lado, deputados do PL votaram pela manutenção da prisão de Chiquinho Brazão. Com a maior bancada da Câmara, a legenda foi a que deu mais votos pela soltura de Brazão, com 71 parlamentares a favor da suspensão da prisão. Mas sete deputados deram votos divergentes: Antonio Carlos Rodrigues (SP), Delegado Caveira (PA), Junior Lourenço (MA), Roberto Monteiro Pai (RJ), Rosana Valle (SP), Silvia Cristina (RO) e Robinson Faria (RN).
Antonio Carlos, ministro dos Transportes no segundo governo de Dilma Rousseff, foi o único que compartilhou os motivos para votar para manter a prisão do colega de plenário. O deputado informou que decidiu acompanhar o entendimento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinaram a prisão de Brazão, por "votar com a consciência" e "no que acha certo". Os demais parlamentares não deram retorno.