A derrota política do presidente dos EUA Donald Trump e dos líderes do partido republicano, especialmente Paul Ryan, presidente da Câmara dos Deputados, com a retirada da pauta do Congresso da proposta que defendiam do novo programa nacional de planos de saúde não deverá provocar fortes impactos nos mercados nos EUA, apontaram especialistas ouvidos pelo Broadcast.
Contudo, o presidente Donald Trump terá dificuldades maiores para ver a aprovação pelo Congresso de novas medidas na área econômica, como a proposta de Orçamento para o próximo ano fiscal, a reforma tributária para empresas e famílias e também o plano de investimentos de US$ 1 trilhão em infraestrutura.
“Os mercados no fim da sexta-feira não reagiram tão mal à decisão dos republicanos sobre o programa nacional de saúde porque agora têm em perspectiva que a reforma tributária estará em foco no Congresso”, disse Bill Stone, estrategista-chefe para investimentos do PNC Asset Management Group, que administra US$ 140 bilhões em ativos.
“É provável que a reação de investidores da sexta-feira seja estendida na segunda-feira para os mercados de ações nos EUA, que vêm registrando um ótimo desempenho há vários meses”, destacou Stone. “Os investidores em geral esperam uma vitória do governo do presidente Donald Trump com a proposta de redução de impostos para companhias e famílias.”
Mas para especialistas ficou a impressão de que os republicanos não são invencíveis politicamente, apesar de controlar a Casa Branca e as duas Casas do Congresso. “Esta é uma oportunidade única na vida para revogar o Obamacare e adotar um programa de saúde que reduza custos e amplie a cobertura para os cidadãos”, comentou várias vezes nas últimas semanas Paul Ryan.
“A partir de agora, o governo deve desacelerar a adoção de medidas econômicas agressivas depois do resultado de hoje”, afirmou Lewis Alexander, economista-chefe para os EUA da Nomura Securities. “Não sei como deve ser o comportamento nos mercados no curto prazo, mas é possível avaliar que há risco de redução do ritmo de melhora de índices de confiança de empresas e consumidores.”
“Apesar do novo programa de planos de saúde ter suas especificidades que amplificam o debate político, é possível esperar que questões como a proposta para o Orçamento no novo ano fiscal e a reforma tributária terão dificuldades bem maiores para serem aprovadas pelo Congresso”, comentou Dan White, diretor da Moody´s Analytics para a área fiscal.
Na avaliação de White, como uma reforma tributária demanda capital político do governo, pois implicará em renuncia de receitas para bancar reduções de impostos, a prioridade da administração de Donald Trump deverá ser a diminuição de tributos para companhias e não para consumidores.
“Isto ocorrerá porque o impacto sobre as receitas do Poder Executivo é de um terço com a redução de impostos para empresas e de dois terços para os consumidores”, disse Dan White. “E reduzir tributos para companhias gera o efeito positivo de ampliar investimentos corporativos e ampliar a geração de empregos.”