Opinião

Derrota do Brasil vai além do futebol

Bastou o Brasil se dar mal na cobrança das penalidades máximas contra o Paraguai, no último domingo, sendo eliminado da Copa América ainda nas quartas de final, após empatar no tempo normal e na prorrogação, em 0 a 0, para que os torcedores começarem as críticas à Seleção, como se o mundo tivesse acabado. Um ano atrás o filme foi o mesmo quando o time verde-e-amarelo sucumbiu à Holanda na Copa do Mundo. Na verdade, faz tempo que o Brasil não é mais o país do futebol. Existem questões muito mais importantes que passam despercebidas, mas o esporte ainda encanta e é utilizado para a perpetuação do “pão e circo”, quando busca se iludir a população com alegrias passageiras, deixando de lado questões muito mais profudas.


Não precisa ir longe. Muita gente se manifestou envergonhada de ver o Brasil perder para o Paraguai nos pênaltis. Porém, quase ninguém sabe que no ranking de alfabetização elaborado pela Unesco o país vizinho, tido como subdesenvolvido ou mesmo o “paraíso dos produtos piratas”, está à frente do Brasil. Sim, no Paraguai trata-se a educação com muito mais responsabilidade do que por aqui. Nem por isso, nos sentimos humilhados. Basta cair em uma partida de futebol para o mundo cair sobre nossas cabeças. Lamentável.


E o que dizer de nossa saúde pública? Vivemos – dia após dia – a sofrer as mais diferentes derrotas toda vez que um cidadão é obrigado a voltar para casa em uma Unidade Básica de Saúde sem atendimento, por falta de médicos. Ou mesmo, quando alguém perde a vida por erros ou deficiência de nossos governantes. Dificilmente essas derrotas, mais frequentes do que se possa imaginar, vão para as manchetes dos jornais. Quando isso ocorre, os responsáveis – como fez o ex-presidente Lula na semana passada – afirmam que é intriga da imprensa.


Lógico que o futebol faz parte da cultura esportiva brasileira. Vencer competições sempre é salutar. Mas também seria muito melhor para todos se a população fosse mais crítica em temas que mexem diretamente com suas vidas. O Brasil perdeu? A vida segue. Não há médicos ou atendentes suficientes nos postos de saúde? Talvez a vida não possa seguir.  E isso muita gente não consegue enxergar. Passa da hora da sociedade brasileira se preoucupar e – principalmente – cobrar maior seriedade dos governantes com problemas muito mais concretos.

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