Cidades

Desabrigados da Hatsuta usam auxílio moradia para alugar barracos na própria favela

“Pedem três meses de depósito antecipado”, disse a moradora Ivoneide Maria da Conceição

Ronaldo Paschoalino

Três meses após o incêndio que queimou boa parte do lado externo da comunidade do Hatsuta, a reportagem do Guarulhos HOJE procurou algumas vítimas que tiveram suas casas consumidas pelas chamas naquela tarde de 28 de fevereiro para saber onde elas estariam vivendo. Elas foram encontradas dentro da própria favela, mesmo recebendo auxílio moradia de R$ 300 pagos pela prefeitura.

A maioria das famílias afetadas pelo incêndio não voltou para comunidade. Jamais saíram. "Como que vou conseguir alugar alguma coisa para morar sendo que os aluguéis estão no mínimo R$ 500. E ainda pedem três meses de depósito antecipado", disse a moradora Ivoneide Maria da Conceição, de 32 anos, que teve de alugar um novo barraco, na parte interna da Hatsuta, por R$ 250, onde mora com o marido e os cinco filhos. "E ninguém aluga casa pra quem tem mais de dois filhos", acrescentou.

Já o funcionário público Sidnei Augusto Barbeiro, de 50 anos, não perdeu a casa no incêndio, mas sua família foi uma das retiradas do local pela Defesa Civil após o município considerar a área de risco. Sem encontrar lugar para morar, o servidor que trabalha na funerária de Guarulhos, não teve outra saída.

"O salário é pouco e o auxílio moradia não dá pra alugar nada. Não adianta apenas a prefeitura pagar R$ 300 e achar que o problema está resolvido", desabafou o trabalhador que teve de abrir um buraco na parede para servir de porta de entrada, uma vez que a porta do porão em que vive terá de ser fechada conforme ordem da Defesa Civil. "Não pode ter entrada nos fundos da favela, foi o que disseram", concluiu Barbeiro.

"Prefiro a favela do que o cortiço", diz moradora

Outra vítima do incêndio que não conseguiu alugar nada fora da favela foi Rosa Onório, de 69 anos. O barraco da moradora que há 12 anos chegou na Hatsuta foi um dos primeiros a ser consumido pelas chamas e, dos pertences que tinha, sobraram apenas as roupas do corpo. "O único lugar que achei pra morar foi em um cortiço na Vila Fátima. Preferi ficar aqui e pagar R$ 280 no aluguel desse barraco", contou Rosa, que já havia sido vítima de um outro incêndio, quando a casa que tinha em uma favela na Vila Maria, em São Paulo, também foi consumida pelas chamas.

Quando chegou em Guarulhos, Rosa Onório lembra que pagou R$ 2.150 pelo pequeno barraco que divide com o filho de 26 anos, deficiente auditivo. "Aqui a vida é precária?É sim. Mas pelo menos sou eu e meu filho no nosso espaço. Não vou para um cortiço e não tenho condições de pagar um aluguel de R$ 500. Gostaria muito de ter um lugar meu, mas não tenho condições".

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