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Desabusada e provocativa, Agnès Varda fez filmes intimistas e também políticos

Em Berlim, em fevereiro, homenageada pelo festival com um Urso de Ouro de carreira, Agnès Varda parecia bem. Apresentou seu novo filme, Varda par Agnès, que agora ficou sendo o último. Varda morreu nesta sexta-feira, 29, em Paris. Tinha 90 anos. Foi fotógrafa, precursora da nouvelle vague, grande cineasta. Desabusada e provocativa, fez filmes intimistas e também políticos. Filmou uma mulher com medo da morte (Cléo das 5 às 7), um homem que sonha com duas mulheres (Le Benheur/As Duas Faces da Felicidade) e os Panteras Negras.

Varda tinha a premonição de que ia morrer? No filme, ela explica que, convidada a dar master classes, cansou-se da repetição. Dizer as mesmas coisas, lembrar os mesmos fatos e personagens. Fez o filme para substituir suas master classes ao vivo. Quando lhe pedissem mais uma, ela enviaria Varda par Agnès. Agora, é o que teremos. Varda debruçada sobre sua carreira, os amigos, o amor de sua vida, Jacques Demy.

O cine Belas Artes, neste mês de março, homenageando as mulheres, apresentou, às sextas, uma programação que começou com Varda, Cléo das 5 às 7. O filme causou sensação no começo dos anos 1960, ao participar da competição de Cannes. Duas horas da vida de uma mulher, Corinne Marchand. Ela é cantora. Anda a esmo por Paris, canta em seu estúdio. Essas duas horas são decisivas. Cléo, de Cleópatra, espera o resultado de um exame que vai dizer se tem câncer. Mais de 50 anos depois, Varda colheu outro extraordinário triunfo e foi indicada para o Oscar por Visages Villages, que codirigiu com JR.

Nos últimos anos, recebeu muitos prêmios e homenagens. Agradecia, mas achava perverso. Injusto – existem outras mulheres diretoras que também merecem ser honradas por seu trabalho. Quanto terão de esperar? Até os 90, como ela? Em Berlim, Varda disse que não era difícil, para ela, avaliar e analisar seu trabalho.

Ela nunca pensava nos filmes em termos de bons ou maus. “Poderia ter feito melhor?” O que ela sempre tentou compreender foi o próprio processo de criação. Tentava ser espontânea, seguindo seu instinto, mas sempre houve um pensamento por trás. Varda par Agnès divide-se em duas partes, o século 20 e o 21. Antes, Varda era uma cineasta. Virou uma artista. Definia-se como tal. Preparava uma exposição, que antecipa vagamente no filme. Ficará só nisso, um gostinho?

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