Estadão

Descolado de NY, Ibovespa sobe 0,37%, aos 102,1 mil pontos

Descolado de Nova York nesta quinta-feira, 4, pós-Fed e pós-Copom, o Ibovespa recuperou a linha dos 102 mil pontos, obtendo o primeiro ganho em três sessões neste começo de maio. Em moderação ao longo da tarde, a referência da B3 encerrou o dia em leve alta de 0,37%, aos 102.174,34 pontos, vindo de perdas de 0,13% e de 2,40% na abertura do mês. Hoje, oscilou entre 101.063,49 e 103.320,81, saindo de abertura aos 101.797,91 pontos. Ao final, mostrava giro financeiro a R$ 26,4 bilhões, um pouco acima da média recente. Na semana e no mês, o Ibovespa ainda cede 2,16%, com recuo de 6,89% no ano.

O bom desempenho de Petrobras (ON +1,46%, PN +1,59%) e dos grandes bancos (Bradesco PN +2,33%, Unit do Santander +1,73%) foi mais do que suficiente para compensar as perdas concentradas no setor metálico, espelhando as preocupações quanto à demanda chinesa que têm se refletido nos preços do minério de ferro – hoje, abaixo de US$ 100 por tonelada nos contratos negociados em Cingapura, pela primeira vez desde novembro passado. Assim, Vale ON fechou a sessão em queda de 3,10%, enquanto a retração no setor de siderurgia chegou a 6,22% (CSN ON, mínima do dia no fechamento), refletindo também a recepção ao balanço da fabricante de aço.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Ultrapar (+11,81%), Dexco (+7,28%), Magazine Luiza (+6,89%), Pão de Açúcar (+6,67%), Renner (+6,11%) e MRV (+5,42%), com Embraer (-9,71%), CSN (-6,22%), Carrefour Brasil (-4,86%), Gerdau (-4,13%) e Prio (-4,11%) no canto oposto.

"Com eventos importantes no dia anterior, e volatilidade na sessão de hoje, o descolamento do Ibovespa refletiu leitura hawkish do Fed, ao não sinalizar com clareza o fim do ciclo de elevação de juros nos Estados Unidos, e um comunicado de certa forma mais ameno, dovish , do Copom, quando se olha para as entrelinhas. Assim, a curva de juros fechou, o que ajudou hoje o desempenho de setores como os de varejo, tecnologia e construção na B3, mais expostos a juros, ao custo de crédito", diz Lucca Ramos, assessor de renda variável da One Investimentos.

Dessa forma o Ibovespa, mesmo com a moderação do meio para o fim da tarde, conseguiu resistir ao sinal negativo do exterior nesta penúltima sessão da semana. Em Nova York, rumores sobre a condição dos bancos médios americanos resultaram em pressão sobre todo o setor financeiro nesta quinta-feira, em que as perdas, no fechamento, ficaram entre 0,49% (Nasdaq) e 0,86% (Dow Jones) – em sessão de quedas acentuadas para instituições como PacWest (-50,62%), Western Alliance (-38,55%) e First Horizon (-33,55%). Ainda no início da tarde, o Western Alliance negou que estuda "opções estratégicas", entre as quais uma potencial venda.

As bolsas da Europa, por sua vez, também fecharam na maioria em baixa, no dia em que, conforme esperado, o Banco Central Europeu (BCE) elevou a taxa de juros de referência da zona do euro em 25 pontos-base. Em coletiva após a decisão, a presidente do BCE, Christine Lagarde, deixou espaço aberto para novas elevações da taxa de referência para o bloco da moeda única, apontaram analistas.

Aqui, por outro lado, "a Bolsa já abriu em alta, com os juros longos fechando, algo bom para o ambiente econômico, beneficiando os setores que dependem de crédito de longo prazo", diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. Desde a manhã, o dia foi de queda para os juros futuros com vencimento entre 2024 e 2027, o que contribuiu para o apetite por risco na B3, observa Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos.

"A decisão unânime do Copom correspondeu ao esperado, mas alguns pontos no comunicado chamaram a atenção. A constatação de que um aumento adicional da Selic corresponde a cenário menos provável foi lida de forma amena em relação ao tom que o Copom vinha usando. Ainda trabalhamos com cenário-base de corte na Selic no terceiro trimestre, provavelmente na reunião de agosto, com transição em junho", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. "Algumas mudanças importantes no comunicado dão a entender início da amenização de tom na noite de ontem para, num segundo momento, redução de juros."

O tom do comunicado, no entanto, dividiu opiniões, do ameno ao endurecido. "Na nossa avaliação, o tom do Copom sofreu poucas alterações em relação à reunião anterior. A visão do BC ainda envolve um cenário externo adverso, com incerteza elevada e condições financeiras que requerem monitoramento, em um cenário de inflação resiliente, de preços que ainda não convergem para as metas e mantêm os juros em nível elevado", diz Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

"Como o pano de fundo não mudou, o balanço para inflação permanece com fatores de risco em ambas as direções", acrescenta a economista, observando que, apesar do arrefecimento da atividade doméstica, o BC notou também resiliência do mercado de trabalho. "A comunicação sobre os próximos passos ficou praticamente inalterada, com o BC em atitude vigilante , reconhecendo as incertezas. Tom ainda duro e preocupado com as expectativas de inflação, sem previsão de cortes de juros para as próximas reuniões. Mas, é claro, o BC pode mudar suas avaliações", conclui Marcela.

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