Em dia de agenda esvaziada aqui e lá fora, o mercado de câmbio doméstico trabalhou em marcha lenta nesta quarta-feira, 13. Com oscilação de apenas pouco mais de dois centavos de real entre a mínima (R$ 4,9643) e a máxima (R$ 4,9880) e algumas trocas de sinal, o dólar terminou a sessão desta quarta-feira, 13, cotado a R$ 4,9762, em alta de 0,03%.
Segundo operadores, a formação da taxa de câmbio se deu entre forças opostas nesta quarta. Ao recuo da moeda norte-americana no exterior, incluindo contra divisas emergentes, se contrapôs um quadro de cautela com o cenário doméstico, diante dos crescentes ruídos políticos após o imbróglio envolvendo os dividendos extraordinários da Petrobras. Pegou mal a ideia do governo de criar um novo fundo que vai direcionar dividendos da empresa para investimentos. Há ainda temores de que haja ampliação de gastos públicos, diante da queda de popularidade do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
O operador de câmbio Hideaki Iha, da Fair Corretora, chama a atenção para o fato de o real ter apresentado nesta quarta um desempenho bem abaixo de seus pares, como peso mexicano e rand sul-africano, que exibiram ganhos de mais de 0,5% em relação ao dólar. "O real até abriu praticamente igual às moedas pares, mas acabou se descolando. Parece mais uma questão de fluxo de saída pontual, porque o quadro era favorável, com petróleo e bolsa subindo", diz Iha.
Ele ressalta que o dólar poderia estar em níveis mais baixos no mercado local, uma vez que março costuma ser um mês de forte entrada de recursos via comércio exterior, em razão das exportações do agronegócio, em especial da safra de soja. Iha identifica internalização de recursos por parte de exportadores sempre que a taxa de câmbio se aproxima do nível técnico e psicológico de R$ 5,00.
"O dólar não cai de forma consistente porque o clima é de muita cautela com o governo, principalmente depois de a Petrobras reter os dividendos e declarações de Lula de que a empresa não deve atender apenas aos acionistas. Isso mostra que tem comprador", diz o operador da Fair Corretora.
Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento da moeda norte-americana em relação a uma cesta de seis dividas fortes – operou em queda ao longo do pregão e voltou a se situar abaixo da linha dos 103,000 pontos, graças, sobretudo, à recuperação do euro. Já as taxas dos Treasuries subiram, embora de forma mais moderada. A taxa da T-note de 2 anos, mais ligada às expectativa para o rumo da política monetária nos EUA, avançou cerca de 1%, para a casa de 4,62%.
Depois do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de fevereiro, divulgado na terça, vir praticamente em linha com as expectativas do mercado, investidores aguardam a divulgação na quinta-feira do índice de preços ao produtor (PPI). Parece pouco provável, contudo, que o indicador promova um rearranjo relevante para os próximos passos do Federal Reserve. É amplamente majoritária a aposta de que haverá cortes de juros nos EUA apenas em junho.
Para o banco britânico Barclays, o comportamento do real deve seguir muito atrelado no curto prazo à tendência global da moeda americana, com raros episódios de descolamento.
A instituição tem uma visão construtiva para a moeda brasileira, argumentando que o fato de o Banco Central promover um ciclo lento e constante de queda da taxa Selic impede uma "erosão" da atratividade do <i>carry trade</i>. Além disso, o real ainda encontra suporte da solidez das contas externas, em meio a um boom estrutural da produção de petróleo.
"A história do petróleo compensa fatores negativos. Esperamos, por enquanto, um desempenho do real superior ao de seus pares, apoiado também pelo carry elevado e pelo Banco Central cauteloso", afirma o Barclays, em relatório.