Economia

Desconhecidas, redes regionais driblam a crise

Thiago Nagumo, sócio da rede de supermercados Nagumo, com 42 lojas no Estado de São Paulo, a maior parte em regiões de periferia, está otimista. Para 2016, espera ampliar entre 15% e 20% as vendas, depois de crescer 6% o faturamento em 2015. “Achava que o ano passado seria ruim e, no final, foi melhor”, diz o empresário, de 31 anos. Por causa da crise, ele conta que surgiram muitas oportunidades de comprar lojas de concorrentes que fecharam as portas. No ano passado, a varejista abriu uma unidade e planeja mais quatro para este ano, além de um novo centro de distribuição em Guarulhos (SP), onde fica a sua sede.

A rede de Nagumo, que relançou em 2001 a marca fundada por seus avós na década de 60, cujas 12 lojas tinham sido vendidas no fim dos anos 90 para o Grupo Pão de Açúcar, não é a única varejista na contramão do mercado.

Em um cenário desanimador para o setor – no ano passado as vendas do varejo, excluindo carros e material de construção, caíram 4,3%, descontada a inflação – algumas empresas regionais têm conseguido manter um desempenho favorável.

“Há verdadeiras joias escondidas no varejo brasileiro”, constatou Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo de Consumo (SBVC), a partir do ranking que reúne as 300 maiores companhias do setor em vendas.
Na lista deste ano, feita a partir de dados de 2015, foram identificadas 79 desconhecidas do varejo nacional. Juntas, essas empresas venderam no ano passado R$ 49,5 bilhões, quase um quarto da receita das 10 maiores, que somou R$ 195 bilhões.

“Quase um terço das 300 maiores varejistas são empresas de gestão simples, muitas vezes líderes regionais com faturamento relevante, produtividade elevada e desconhecidas nacionalmente”, observou Terra. Parte delas informou pela primeira vez neste ano a receita. Outra parte entrou no ranking por estimativa, levando-se em conta as vendas por loja de três concorrentes próximas. O processo foi validado pela empresa de auditoria KPMG.

Segredo

Na rede Nagumo, que não revela o faturamento, mas que na estimativa da SBVC teria sido de R$ 1,9 bilhão no ano passado, os pilares do sucesso são as negociações favoráveis na compra e a prestação de serviço ao cliente. Um exemplo é a presença do velho empacotador, figura rara hoje nos grandes supermercados. Thiago Nagumo resume a estratégia da empresa em relação ao dia a dia dos negócios e aos investimentos como “bem pé no chão”.

Essa também é a aposta da direção de outra “joia” revelada no ranking, a rede gaúcha de móveis e eletrodomésticos Lebes, comandada por Otelmo Drebes. “Não temos nada de excepcional: nossa empresa é familiar, capitalizada e marcada pela profissionalização”, diz o presidente. Com 135 lojas, a rede vendeu R$ 900 milhões em 2015, uma expansão de 4% na receita. Para este ano, a expectativa é crescer entre 4% e 5%. Drebes contou que sempre financiou as vendas no crediário próprio. “Recebemos receita de juros em vez de pagarmos juros.”

O empresário explica que, com a crise e o encolhimento dos concorrentes, apareceram oportunidades de abrir lojas em cidades importantes. Depois de 60 anos de operação, no mês passado pela primeira vez a rede varejista cruzou a fronteira do Estado e abriu a primeira loja em Santa Catarina.

Para o ano que vem, estão previstas seis lojas, parte delas no litoral catarinense. Apesar da recessão, o ritmo de abertura de lojas se manteve. Foram inauguradas seis lojas no ano passado, estão programadas sete para este ano e seis para o ano que vem.

Terra, da SBVC, ressalta que existe uma falsa ideia de que o varejo brasileiro é concentrado. A força das líderes regionais – que conhecem melhor o cliente, conseguem fazer uma boa gestão de custos e alcançam taxas de crescimento de vendas melhores do que as grandes redes nacionais – é prova de que essa premissa não é verdadeira.

No segmento de farmácias, por exemplo, que praticamente não tem sentido a crise pelo fato de vender remédio que é um item essencial, o ranking revelou outro “achado”: a Drogaria São João, com 500 lojas espalhadas no Sul e vendas estimadas de R$ 1,085 bilhão em 2015. “O diferencial da São João é o seu tamanho, que não tinha sido revelado”, diz Terra. Procurada, a empresa não tinha porta-voz para comentar os resultados.

Desempenho. Já a quase centenária Drogaria Catarinense, que em 2006 passou a se chamar Cia Latino Americana de Medicamentos (Clamed), dona também das bandeiras, Farmácia Preço Popular, Farmagora e Proformula, apareceu pela segunda vez n o ranking.

Com 350 lojas em 2015, a empresa faturou R$ 1,8 bilhão e cresceu quase 24% em relação a 2014. Esse desempenho supera a marca obtida no mesmo período pela gigante do setor Raia Drogasil, com vendas que avançaram 21%, segundo o ranking.

Limiro Nascimento, vice-presidente da Clamed, atribui parte do resultado ao próprio mercado, que cresceu a uma taxa de dois dígitos. Mas pondera que o grupo tem se pautado por uma expansão orgânica e sustentável, com a constante abertura de lojas. A empresa encerrou o mês passado com 382 lojas nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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