Economia

Desembolsos do BNDES para financiamento de equipamentos industriais caem 18,8%

A queda nos investimentos durante a recessão está fazendo desidratarem os valores liberados para empréstimos à compra de máquinas e equipamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dados obtidos pelo jornal “O Estado de S. Paulo” apontam que os desembolsos para o financiamento à compra de equipamentos industriais – máquinas e ferramentas em geral, sem contar caminhões e maquinário agrícola – atingiram R$ 14,2 bilhões de janeiro a julho, 18,8% abaixo dos R$ 17,5 bilhões de igual período de 2014. Esses empréstimos integram a Finame, linha automática para a compra de bens de capital.

Os números indicam que o processo de redução nos desembolsos verificado no primeiro semestre do ano foi mantido em julho – e, provavelmente, em agosto, cujos dados serão divulgados em breve pelo BNDES. No primeiro semestre, os desembolsos totais da Finame, incluindo caminhões, ônibus e tratores, recuaram 38,1% em relação aos primeiros seis meses de 2014.

Semana passada, ao comentar os dados sobre o mercado de crédito divulgados pelo Banco Central (BC), economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destacaram, em relatório, que o crédito com recursos direcionados, como os empréstimos do BNDES, está atuando de forma “pró-cíclica”, agravando ainda mais a retração dos investimentos, que já estava em curso.

“Diferentemente de 2008, quando o BNDES assumiu um protagonismo fundamental na minimização do impacto da crise financeira global, o banco tem reduzido bruscamente a concessão de novos empréstimos, seja via redução da oferta, seja via redução da demanda, causada pela forte queda do investimento na economia”, diz o relatório do Iedi.

De janeiro a junho de 2009, a Finame liberou R$ 10,162 bilhões, em valores da época, que não podem ser bem comparados com os R$ 19,047 bilhões do primeiro semestre deste ano, mas, naquele ano, os desembolsos acumulados nos últimos 12 meses encerrados em junho cresciam 9%, ou seja, enquanto a economia e os investimentos caíam por causa da crise de 2008, o BNDES crescia. Desta vez, em junho deste ano, no acumulado em 12 meses, os desembolsos da Finame apresentam tombo de 20%.

Em parte, isso ocorre porque este ano começou com o BNDES aumentando juros e reduzindo a fatia do crédito subsidiado no valor total dos projetos, diante da necessidade de reduzir os aportes do Tesouro no banco, como parte do ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. No Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI) – criado como saída da crise de 2008 e que direciona recursos para bens de capital via Finame -, as taxas, que até 2014 iam de 4,0% a 8,0% ao ano, passaram para de 6,5% a 11,0%. Os prazos mudaram de 36 a 120 meses para de 36 a 96 meses.

Para a indústria de bens de capital, a queda na demanda por investimentos tem sido ainda pior do que as restrições de crédito por parte do BNDES. “O drama todo é que achávamos que as novas regras do PSI iriam impactar, mas os investimentos caíram tanto que não há demanda”, afirmou o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Carlos Pastoriza, após participar de evento do Rio há duas semanas.

A Romi, cujos clientes, sobretudo médias e pequenas empresas, são grandes usuários da Finame, não vê problemas na restrição de crédito. Segundo Fábio Taiar, diretor de relações com investidores da companhia, mesmo após o encarecimento dos juros nas linhas do BNDES, na virada de 2014 para 2015, elas continuaram sendo bem mais atrativas do que a média do mercado, referenciadas na taxa básica Selic (hoje em 14,25% ao ano). Ou seja, no quadro geral de encarecimento do crédito neste ano, os juros da Finame subiram menos do que a média.

Por isso, Taiar concorda com o presidente da Abimaq, avaliando que o cenário macroeconômico, marcado pela incerteza com os rumos da crise política e da política econômica, está influenciando mais as decisões de investimento do que as taxas dos financiamentos. “Tem muita incerteza no cenário, o que leva à frenagem brusca dos investimentos”, afirmou Taiar.

Segundo o executivo, os negócios da Romi são “altamente cíclicos”, ou seja, sobem e descem em função dos altos e baixos da atividade econômica. O resultado é que a companhia vem registrando prejuízo desde o quarto trimestre do ano passado. No primeiro semestre, acumulou prejuízo líquido de R$ 15,4 milhões, contra lucro de R$ 2,3 milhões na primeira metade do ano passado.

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