O desemprego em setembro, que ficou estável ante agosto em 7,6%, veio um pouco melhor do que o esperado, mas isso já pode ser reflexo das contratações de fim de ano, segundo o economista Marcel Caparoz, da RC Consultores. A estimativa dele era de 7,7%, enquanto a mediana dos analistas ouvidos pelo AE Projeções era de 7,80%.
“Precisamos tomar cuidado com esse número. No final de ano sazonalmente existe a tendência de começar a ter algum tipo de aumento no emprego temporário. Isso acontece primeiro na indústria, que antecipa a produção, e depois no comércio, serviços”, explica.
O analista aponta que mesmo as contratações temporárias este ano devem ser menores, em função da crise econômica, e que o começo de 2016 será ainda mais difícil, já que o porcentual de trabalhadores efetivados também tende a cair.
Caparoz aponta que tanto a população economicamente ativa (PEA) quanto o volume de ocupados e desocupados caiu em setembro ante agosto, o que mostra que o mercado de trabalho como um todo está encolhendo.
“Isso é muito ruim, porque as pessoas estão saindo do mercado, deixando de ser produtivas. Além disso, o governo deixa de arrecadar impostos e a Previdência perde contribuintes. A população brasileira continua crescendo e os jovens precisam entrar no mercado”, aponta.
O analista explica ainda que a queda da PEA, a segunda contração mensal consecutiva, pode indicar o começo de um processo de desalento, quando a pessoa simplesmente desiste de procurar trabalho. “Se for isso mesmo, está acontecendo muito rápido. Eu não esperava este movimento para este. Mas o noticiário tem sido tão negativo, as perspectivas econômicas são tão ruins, que pode estar acelerando o desalento”, opinou.
No Rio de Janeiro, a taxa de desemprego subiu de 5,1% para 6,3% de agosto para setembro. Na visão do economista da RC Consultores, com o fim de algumas obras da Olimpíada, o setor de construção civil na cidade começa a demitir.
Mesmo assim, ele aponta que em alguns outros setores a expectativa de demanda maior em função da competição internacional pode estar evitando demissões. “A situação do mercado de trabalho no Rio era para estar muito mais grave, porque o Estado é muito afetado pela situação da Petrobras, que vem cortando fortemente seus investimentos”.
Um aspecto positivo, do ponto de vista do custo de produção, é que a renda média real continua caindo. Em setembro, houve redução de 0,8% ante agosto e baixa de 4,3% na comparação com setembro do ano passado. “A mão de obra no Brasil é cara e não é eficiente. Os salários vinham tendo alta real nos últimos anos, sem aumento da produtividade. Agora a indústria começa a segurar o custo da mão de obra, e ainda tem a possibilidade de exportação com a melhora no câmbio”.