Embora a variante Ômicron cause um número menor de casos graves da covid-19, a velocidade de contágio tem lotado postos de saúde e hospitais pelo Brasil. São mais pacientes e menos médicos – estes, afastados pela doença. Sob o argumento de desfalques nas equipes e sobrecarga de trabalho, médicos da rede municipal de São Paulo aprovaram ontem paralisação, marcada para o dia 19. Em outros Estados, como Rio e Ceará, os efeitos no sistema de saúde já levam à suspensão de cirurgias eletivas (não urgentes).
Os médicos da rede paulistana deram até segunda-feira, 17, para a Prefeitura apresentar plano de reposição dos funcionários, com a possibilidade de reavaliar se cruzam mesmo os braços. Eles ainda reivindicam o fim da obrigação de trabalhar em fins de semana e feriados.
"Não adianta pegar uma unidade que devia ter dez médicos e fazer dois médicos atenderem continuamente. Precisa, para além dos dois médicos, contratar a equipe completa", diz Victor Dourado, presidente do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). Segundo a entidade, equipes de ao menos 50 unidades básicas de saúde (UBSs) visitadas relataram desfalques nas últimas semanas.
Segundo ele, a cobrança por mais profissionais é feita desde 2021, mas aumentou nas últimas semanas. Dos cerca de 94,7 mil profissionais da rede de saúde da cidade, 3.193 (3%) estavam afastados na quinta, 13, por sintomas gripais. Conforme o Simesp, quase 150 profissionais participaram da assembleia que aprovou a paralisação.
Secretário-adjunto de Saúde da Prefeitura de São Paulo, Luiz Carlos Zamarco disse ao <b>Estadão</b> que considera uma "irresponsabilidade" fazer "greve no meio da pandemia". O município, segundo ele, avalia acionar o Ministério Público contra a paralisação.
A pasta diz ter contratado 280 novos profissionais e autorizado as Organizações Sociais de Saúde (OSSs) a contratarem mais médicos e enfermeiros. Ainda de acordo com a secretaria, houve "pagamento de 50% do banco de horas extras", além das horas extras na folha mensal.
O Sindicato das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Filantrópicos do Estado informou ter enviado três contrapropostas à categoria, mas sem acordo. O Sindicato dos Enfermeiros do Estado diz ser "solidário" ao movimento e prevê assembleia dia 19.
<b>Pressão</b>
Diante da alta de casos, o Estado do Rio suspendeu, por 30 dias, cirurgias não urgentes a partir da próxima semana. Segundo o governo, 20% dos profissionais da saúde estão afastados. A medida visa também a proteger pacientes de possível infecção.
Em Fortaleza, unidades de saúde já superaram a média diária de atendimentos do pico da 2ª onda, com 2,7 mil pacientes diários. Guarujá e São Vicente, na Baixada Santista de São Paulo, também cancelaram procedimentos.
"Se o sistema hospitalar entrar em colapso, tanto na rede privada quanto na pública, óbitos evitáveis poderão ocorrer pela não garantia de acesso à internação", alertou o Conselho de Secretários Estaduais de Saúde (Conass) em documento ao Ministério da Saúde nesta semana. Cancelamento de férias e remanejamento de equipes estão entre outras das medidas adotadas. "Felizmente, não temos funcionário de saúde em estado grave, estão todos vacinados com 3.ª dose. Mas um afastamento de sete dias impacta muito no nosso funcionamento", diz o secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz.
Na rede privada, a Ômicron também pressiona. "As pessoas ficam três, quatro horas na fila para pegar pedido de exame, porque precisam de atestado. Se tivéssemos campanha de orientação, um sistema de testagem, estaríamos evitando muito sofrimento", conta uma médica de um hospital privado carioca, que pediu anonimato.
Diretor executivo da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), Antonio Britto pede que só quem tiver sintomas mais graves vá ao hospital, para não sobrecarregar as emergências. "O problema agora é a capacidade de atendimento dos hospitais, diante da demanda que está crescendo de forma absurda nos últimos dias", afirma ele.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>