Nunca diga nunca é uma máxima que se aplica perfeitamente bem à dinâmica da moda, na qual o que é brega hoje pode virar muito cool amanhã. Quem diria, por exemplo, que Reinaldo Lourenço, o estilista mais chique do Brasil, faria uma coleção toda inspirada em Miami? Pois ele fez e apresentará nesta segunda, 22, no Farol Santander, em seu desfile que marca a abertura da 47ª edição do São Paulo Fashion Week – que vai até dia 26.
Fachadas de edifícios art déco estão estampadas em saias-envelope, enquanto longos de seda magníficos ganham nuances em degradê, lembrando o pôr do sol. Peças de alfaiataria em puro linho e a camisaria chiquérrima de algodão contrastam com a sensualidade do couro e dos vestidos moldados por argolas de metal.
Poucos estilistas nacionais conseguem desdobrar um conceito criativo em linhas paralelas usando materiais tão diferentes e refinados e atraindo estilos tão diversos de clientes. É raro ver um ateliê capaz de produzir moda com esse nível de sofisticação (a equipe de costura está ali há anos).
Detalhista, agitado e exigente, Reinaldo recebeu o jornal O Estado de S. Paulo nos momentos finais dos preparativos para o desfile. “A moda hoje é produto. Nos anos 1980 e 90, a gente tinha mais chance de mostrar o talento artístico. Hoje as pessoas querem uma roupa que elas possam usar”, diz ele, que desenhou 280 modelos para esta temporada, e colocará 50 deles na passarela.
Sempre afiado, ele analisou a relevância dos desfiles e o uso ostensivo de logos. “Nossa elite se preocupa muito com grifes”, dispara. Lembrou ainda das modelos famosas e de outras épocas, revirando registros fotográficos e looks dos desfiles passados, catalogados recentemente por um pesquisador. Guardadas em uma sala do ateliê repousam, enfim, preciosidades da moda nacional.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.