A monotonia dos desfiles nos quais as modelos vêm e vão com cara de chateadas acabou. Pelo menos foi assim em Milão, onde os grandes estilistas decidiram pensar fora da caixa e fugir da mesmice. No domingo, último dia de desfiles de outono/inverno da temporada italiana, seis drones surgiram carregando as bolsas da Dolce & Gabbana em mais um encontro entre moda e tecnologia.
À noite, encerrando a semana, Tommy Hilfiger apresentou o seu espetáculo teatral em uma mini pista de corrida armada no centro de convenções Fiera Milano. Enquanto isso, os fãs da Prada, da Gucci e da Versace ainda debatiam nas redes sociais quem tinha feito o melhor show – como se fossem torcidas organizadas.
Nesta temporada, ficou claro que a moda italiana não tem só clientes, tem fãs. O tema da coleção da Dolce & Gabbana, inclusive, foi esse: Fashion Devotion. Na primeira fila, convidados devotos viram passar 110 looks, nos quais o exagero de estampas bizantinas, brocados e florais encontravam camisetas ostentando frases como “santa moda” e “fashion sinner” (pecador da moda).
Para a plateia sempre animada da dupla de estilistas, cada look causava um suspiro (acompanhado de um flash), além de aplausos entusiasmados como se fosse uma partida de futebol.
As coleções, cada vez mais sofisticadas e elaboradas, no entanto, muitas vezes ficam em segundo plano. Para os “pradistas”, por exemplo, já não importa tanto o que Miuccia Prada coloca na passarela – sua legião é tão fiel que a estilista sempre acaba ovacionada.
A turma da Versace, então, faz da primeira fila uma extensão da passarela, reproduzindo o estilo de Donatella com peças coladas ao corpo, saltos superaltos, máxi rabos de cavalo e todos os signos da moda sexy que a marca cultiva há décadas. A comoção segue com Giorgio Armani, designer que também personifica sua marca com muita identidade e singularidade.
“Hoje, o espetáculo é mais sobre alcançar as pessoas através das redes sociais do que de qualquer outra coisa”, diz o norte-americano Tommy Hilfiger, que está fazendo uma turnê global (já desfilou em Nova York, Los Angeles e Londres) e desta vez aterrissou em Milão, encerrando temporada.
O desfile, inspirado no universo da Formula 1, foi um verdadeiro show, com a supermodelo Gigi Hadid, que assina parte da coleção em parceria com o estilista, levando a plateia calorosa a loucura. A próxima parada é Paris. Mas será difícil repetir o sucesso de público por lá – até porque na França todo mundo é bem mais blasé.
MELHORES MOMENTOS
Versace
O inconfundível conjuntinho em xadrez amarelo do filme As Patricinhas de Beverly Hills ganhou reinterpretação e encontrou estampas barrocas, franjas, saias de couro levíssimo e muito, muito animal print
Giorgio Armani
A marca mais elegante de Milão não decepcionou. A silhueta leve e fluida trouxe calças mais curtas em quase todos os looks, assim como vestidos que exibiam os tornozelos. Seus tecidos finíssimos foram ainda mais enriquecidos com estampas orientais e peles falsas
Missoni
A colorida Missoni veio com espírito boho e desacelerado – a trilha era um reggae. Para celebrar os 65 anos, a grife trouxe uma salada de referências da cultura jamaicana, africana, escocesa e, claro, italiana
Gucci
Cheia de surpresas, a coleção da Gucci ainda causa comoção pelas redes sociais, mesmo quase uma semana depois do desfile. Nesta temporada, vimos modelos carregando réplicas de suas cabeças (obra da Makinarium, empresa italiana de efeitos especiais) em um mundo fantástico de referências culturais do Ocidente e do Oriente
Prada
O futuro da Prada faz referência a um passado próximo. Miuccia continua com o movimento de autoaceitação e traz elementos que fizeram sucesso na história da marca – como os sapatos Hot Rods, com aplicações em forma de chama, tons fluorescentes e peças e acessórios em náilon
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.