Estadão

Desigualdade será tema principal das discussões da Cúpula do G20 em 2024, afirma Lula

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta segunda-feira, 11, que a desigualdade será o tema principal das discussões da Cúpula do G20 do ano que vem, que será realizada no Brasil. Assuntos como a transição energética e a reforma das instituições multilaterais também devem ter destaque na reunião.

"É muita responsabilidade para o Brasil fazer o G20. Todo mundo sabe que vamos colocar a questão da desigualdade como peça principal da nossa discussão", afirmou Lula, durante entrevista coletiva em Nova Délhi, que sediou a Cúpula do G20, no fim de semana. "É preciso de uma vez por toda que a gente tente levar em conta e criar uma certa indignação nos dirigentes com relação à desigualdade, à desigualdade de gênero, de raça, de educação, de saúde, de comida. Ou seja, o mundo está mundo desigual: nós temos poucos com muito, e muitos com muito pouco", disse o presidente, antes de retornar ao Brasil.

Lula também ressaltou a importância da temática da transição energética. "O Brasil tem muito a ensinar aos outros países, e por isso queremos compartilhar aquilo que somos capazes de produzir tanto para que possam produzir energia limpa nos seus países, quanto para que a gente possa fazer associações para que empresas nossas se aliem às empresas deles para a gente despoluir o planeta com combustível limpo", afirmou.

O presidente voltou a defender a reforma das instituições multilaterais. Para Lula, os países em desenvolvimento devem ter a possibilidade de dirigir o Banco Mundial e o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser modificado. "É preciso mudar a geografia que está colocada lá, que é de 1945, e colocar uma geografia de 2024."

Em relação à Cúpula deste ano, Lula reiterou que a aliança lançada por Brasil, Estados Unidos e Índia para a produção e a promoção de biocombustíveis foi "outro avanço importante".

<b>Guerra na Ucrânia</b>

O presidente do Brasil destacou que a condenação da guerra da Ucrânia pelos países da União Europeia que participaram da Cúpula do G20 na Índia, no fim de semana, foi um dos destaques positivos do encontro. "Conseguir com que toda a União Europeia assinasse um documento colocando a paz na ordem do dia é um avanço considerado importante", disse.

Lula reiterou que a solução para a guerra é "tentar trabalhar pela paz". "Acho que todo mundo está pegando consciência que essa guerra está cansando a humanidade, já está cansando as pessoas, muito mais os refugiados ucranianos, russos, pessoas que a gente não vai conseguir trazer de volta", afirmou.

O texto final do G20, divulgado no sábado, 9, não condena a Rússia pela invasão da Ucrânia, mas se opõe ao "uso de força contra a integridade territorial, a soberania e a integridade de qualquer Estado". A redação do comunicado agradou à delegação russa.

<b>Prisão de Putin em caso de visita ao Brasil</b>

O presidente da República disse ainda que a Justiça será a responsável pela decisão de prender ou não Vladimir Putin, caso o presidente da Rússia decida comparecer à Cúpula do G20 no ano que vem, no Brasil. Lula também fez várias críticas ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu uma ordem de prisão contra o líder russo por causa da invasão da Ucrânia.

No sábado, Lula afirmou que o presidente russo não será preso se vier ao Brasil, mas recuou da declaração nesta segunda. "Se o Putin decidir ir ao Brasil, quem toma a decisão de prendê-lo é a Justiça, não é nem o governo, nem o Congresso Nacional", disse o presidente.

Ele afirmou ainda que espera a presença de Putin e também do primeiro-ministro da China, Xi Jinping, na Cúpula de 2024 – ambos não estiveram na reunião realizada na Índia no fim de semana.

O presidente russo pode ser preso caso viaje para um dos países que são signatários do Estatuto de Roma, o documento que estabeleceu o TPI. Por causa disso, Putin tem evitado participar de encontros multilaterais fora da Rússia. "Eu inclusive quero estudar muito a questão desse Tribunal, para entender porque os Estados Unidos não são signatários dele, porque a Rússia não é signatário. Então, quero saber porque o Brasil virou signatário de um Tribunal que os Estados Unidos não aceita. Por que somos inferiores e temos que aceitar?", questionou Lula.

O Brasil aderiu em fevereiro de 2000 ao Estatuto de Roma, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e entrou de fato para o TPI em setembro de 2002, ainda na gestão do tucano. Ao todo, 123 países – incluindo o Brasil – já assinaram o documento. "Eu nem sabia da existência desse Tribunal, só quero saber porque os Estados Unidos não é signatário, porque a Índia não é signatário, porque a China não é signatário e porque a Rússia não é signatário e porque o Brasil é signatário? Quero saber qual é a grandeza que fez o Brasil tomar a decisão de ser signatário", disse Lula. "Me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU não são signatários, só os bagrinhos."

<b>Acordo entre Mercosul e UE</b>

O presidente reafirmou nesta segunda-feira que não aceita as exigências impostas pela União Europeia para fechar o acordo comercial com o Mercosul e disse que pretende conversar diretamente com os líderes dos países europeus para avançar nas negociações.

Lula revelou que disse no domingo ao presidente da França, Emmanuel Macron, que deseja fechar o acordo. "Temos que fazer uma reunião em que os presidentes estejam presentes para dizerem: quer ou não o acordo", afirmou.

O brasileiro e o francês se encontraram na cidade indiana durante a Cúpula do G20, realizada no fim de semana.

O presidente do Brasil criticou a demora nas negociações. "A gente tem que chegar a um acordo, ou sim, ou não, ou faz acordo ou para de discutir acordo, porque após 22 anos de discussão, ninguém acredita mais", afirmou. "Eu disse para o Macron que estou com vontade de fazer o acordo enquanto eu sou o presidente do Mercosul." Lula assumiu a chefia temporária do bloco em julho, pelo período de seis meses.

Ele defendeu ainda a elaboração de um acordo com "igualdade de condições". "Acordo comercial é uma via de duas mãos: eu compro e eu vendo, nós temos que chegar num ponto de equilíbrio", afirmou.

<b>Ciclone no Rio Grande do Sul e terremoto no Marrocos</b>

O presidente Lula ainda lamentou o ciclone que atingiu o Rio Grande do Sul e o terremoto que matou mais de 2 mil pessoas no Marrocos na semana passada. "Não tem muita explicação para a ocorrência das tragédias, a não ser a mudança do clima, a não ser o que nós estamos fazendo com o planeta", disse, pouco antes de embarcar para Brasília, após ter participado da Cúpula do G20 na capital indiana.

Lula foi criticado por não ter visitado o local da tragédia no Rio Grande do Sul, que soma 46 mortos e 46 desaparecidos.

No domingo, seis dias após a passagem do ciclone, o vice-presidente Geraldo Alckmin visitou a região e anunciou a liberação de recursos para as vítimas e para a reconstrução da infraestrutura danificada.

<b>Margem Equatorial</b>

O presidente defendeu ainda a realização de pesquisas em busca de petróleo na chamada Margem Equatorial. A questão divide o governo, com a oposição da ala ambiental à prospecção na Bacia da Foz do Rio Amazonas. "O Brasil não vai deixar de pesquisar a Margem Equatorial. Se encontrar a riqueza que pressupõe-se que exista lá, aí é uma decisão de Estado, se vai explorar ou não", disse.

Lula destacou que a exploração ocorreria a 575 quilômetros da margem do Rio Amazonas. "Não é uma coisa que está lá, vizinha da Amazônia. Você não pode ser proibido de pesquisar", afirmou. "Se tiver o que se imagina lá, você pode discutir se vai explorar ou não, mas pesquisar, nós vamos pesquisar. O mundo precisa que a gente pesquise para encontrar novos materiais, novas coisas para o desenvolvimento."

O presidente também disse que o País não deve ingressar na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) neste momento, mas não descarta a possibilidade de isso acontecer no futuro. "Quem sabe se você me perguntar daqui a um ano, vou dizer que sim. Não posso dizer que vou ser definitivamente contra, depende da circunstância política", afirmou.

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