Com o agravamento da crise econômica no Brasil, também houve mudança no perfil do desempregado. No recorte por idade, de junho de 2014 a junho de 2016, a taxa de desocupação cresceu mais nos extremos: entre os trabalhadores de 18 anos ou menos (82%) e entre os que têm mais de 50 (76%).
A recessão vem empurrando os idosos para o mercado de trabalho. Há oito meses, o carpinteiro Luiz Bezerra Evangelista, de 61 anos, foi demitido da empresa em que trabalhou por três anos. Com o fim do seguro-desemprego, ele acorda cedo diariamente e sai à rua em busca de uma vaga. “A empresa perdeu um contrato de obra do metrô e fomos dispensados. Agora, todo dia estou na porta das obras. Eles pegam o currículo, mas ninguém chama”, diz ele.
Evangelista conta que não é o único idoso nas filas. “Tem muitos idosos, senhores de 70, até de 75 anos. Se está difícil para os jovens, imagina para nós.”
O carpinteiro, que trabalha desde os 18 anos, deu entrada na semana passada no processo de aposentadoria. Não foi a primeira vez: quando tentou se aposentar, há dez anos, descobriu que uma das empresas não havia feito as contribuições corretamente. Sua esposa, que tem um problema no joelho, não trabalha e não é aposentada. A renda para o sustento da família nos últimos meses veio da rescisão – mas só faltam R$ 1 mil na poupança. “Espero que eu encontre alguma coisa logo.”
Se para os idosos a situação está difícil, os mais novos, na outra ponta, também enfrentam percalços. Em geral, o jovem é menos experiente, está em processo de escolarização, é menos produtivo e tem um contrato de trabalho mais flexível, tornando-se mais vulnerável em períodos de recessão.
“Existem duas pressões: a diminuição da população ocupada, que é mais recente, e o aumento da População Economicamente Ativa (PEA), que vem crescendo desde 2015”, explica Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre-FGV.
O aumento da PEA é explicado pela inserção de novas pessoas no mercado de trabalho. “Com a redução da massa salarial, os menores de 18 e maiores de 50, que antes não necessitavam trabalhar, passaram a buscar empregos para complementar o orçamento”, diz Alison Oliveira, pesquisador da Fipe.
Educação. Já no recorte por escolaridade, a deterioração do mercado de trabalho também afetou os extremos: entre os brasileiros sem nenhuma instrução, o desemprego aumentou 97%. Já no grupo com ensino superior, o aumento foi de 84%. “Quem sofre mais com o desemprego, em geral, é o indivíduo menos educado. Mas, nessa crise, talvez por ser mais longa, vem atingindo pessoas mais escolarizadas”, diz Ottoni. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.