A pintura das grades do Bosque Maia de amarelo, por determinação do governo do prefeito Lucas Sanches (PL), acaba com a memória afetiva do principal parque municipal de Guarulhos. A afirmação é do experiente urbanista guarulhense e também arquiteto, Roberto Moreno, que integra o Conselho do Patrimônio Histórico, como representante do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil).
Moreno atuou 39 anos na Prefeitura de Guarulhos em cargos de secretário municipal, coordenador, diretor, chefe de divisão, arquiteto, e encarregado de setor. Foi secretário de Economia e Planejamento, secretário de Desenvolvimento Urbano, secretário de Habitação e Desenvolvimento Social, coordenador de Assuntos Aeroportuários.
Em entrevista ao GWEB, Moreno – que também foi professor titular da Universidade Guarulhos por mais de 20 anos – falou sobre a série de irregularidades praticadas pela atual administração ao pintar, sem qualquer consulta ou comunicação aos órgãos competentes, as grades do Bosque Maia nas avenidas Paulo Faccini e Papa João XXIII, na região do Jardim Maia.

“As grades não eram verdes por acaso, porque alguém achou que deveriam ter essa cor. Faz parte de todo um contexto que foi simplesmente ignorado pelo atual prefeito que decidiu colocar o amarelo, assim como está fazendo em toda cidade”, explicou Moreno. “O verde se mistura à natureza, é uma cor que diminui a sensação de barreira. Isto é conceitual”, completa.
História
O Bosque Maia surgiu na década de 60 quando a família do proprietário de uma grande fazenda na região decidiu lotear suas terras. “A família de Renato Maia promoveu o loteamento de diversos bairros que surgiram ali, como Parque Renato Maia e Marilena, entre outros, mas quis preservar a mata que existe até hoje onde é o bosque”, explicou.
O urbanista conta que em 1969 o arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, um dos mais conceituados do país, concluiu o primeiro Plano Urbanístico de Guarulhos, chamado de PUG, quando foi determinada a criação dos parques de vizinhança, municipais, como é o Maia, regionais e de serras. “Tinha ali uma grande via planejada, que hoje é a avenida Paulo Faccini. O parque tinha uma característica própria de grande mata. A ideia era proporcionar ali uma massa verde”, contou.

Em 1972, a Prefeitura de Guarulhos inaugurou o espaço com o nome de Recanto Municipal da Árvore, que se tornou popularmente conhecido como Bosque Maia. “A cor das grades foi escolhida quando elas foram instaladas, já nos anos 80 a 90, justamente para ter essa integração com a natureza. O verde é a cor mais apropriada, já que ele se confunde com as árvores e não cria qualquer impressão de obstáculo”, apontou Moreno.
Ainda rememorando a história de Guarulhos, o urbanista lembrou que o parque foi ganhando novos equipamentos até que, em 1982, o então prefeito Néfi Tales entregou no Dia das Crianças uma série de brinquedos infantis, dando ao Bosque Maia características que se mantém até hoje. Já na década de 90, recebeu o Centro de Educação Ambiental, até que já no ano de 2000, na administração de Jovino Cândido, o parque foi tombado após um processo ter tramitado em todos os órgãos competentes tanto no Município como no Estado por cerca de 10 anos, e considerado patrimônio histórico de Guarulhos, por meio da lei 21.143 de 26 de dezembro.
“O tombamento do Bosque Maia foi reforçado em uma nova lei municipal de 2009, do prefeito Sebastião Almeida, que determinou que nenhuma alteração estrutural ou estética poderia ser realizada sem o consentimento do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico”, reforçou Moreno. A Lei nº 6.573, de 19 de outubro de 2009, reforçou a função do Conselho de Patrimônio Histórico, Artístico, Ambiental e Cultural de Guarulhos: “Art. 29, Parágrafo Único. Caberá ao Conselho […] analisar e aprovar projetos e serviços de reparação, pintura ou restauração ou qualquer obra de intervenção nos bens imóveis e móveis tombados e de sua área de entorno”.
Roberto Moreno foi responsável na semana pelo parecer que rejeitou a mudança da cor verde para amarelo na reunião do Conselho Municipal de Patrimônio Histórico. “Chamou a atenção que fomos surpreendidos com a mudança de cor, já que não chegou ao Conselho qualquer justificativa por parte da Prefeitura. A reunião extraordinária foi convocada justamente para tentar paralisar a pintura que ainda estava em curso e evitar mais danos”, afirmou. O urbanista explicou que cabe agora à Justiça determinar a multa que cabe à administração municipal, além de embargar qualquer continuidade de pintura. “Eles correram e terminaram todas as grades nas avenidas Paulo Faccini e João XXIII, onde há mais movimento”, lamentou.


