Eles são contratados por pais que querem investigar a sexualidade ou o uso de drogas pelos filhos, órgãos públicos que suspeitam de vazamento de informação de empregados, maridos e mulheres que desconfiam de traição, chefes que duvidam de licença médica dos funcionários. Infiltram-se como zeladores, eletricistas, faxineiros. Vasculham redes sociais, comunicam-se com os clientes 24 horas e até identificam escutas telefônicas e microcâmeras em salas de reunião. Essa é a rotina de quem trabalha com espionagem particular.
Esta quarta-feira, 26, foi o dia do detetive e a categoria teve um motivo a mais para celebrar: é o primeiro ano em que a profissão está oficialmente regulamentada. Em abril, lei federal reconheceu a atividade. Se por um lado a legislação veda a coleta de dados de natureza criminal, por outro permite que o detetive colabore com investigação policial em curso, se houver autorização do contratante.
Há 15 anos no mercado, Mario Yamauchi, de 31 anos, topa qualquer caso, menos um: investigação de policiais. “É um risco para os nossos agentes”, diz ele, que coordena um grupo de 20 profissionais. Além de também recusar trabalhos envolvendo policiais, o detetive Fabrício Dias, de 38 anos e há quase 20 no mercado, conta que também nega outro tipo de pedido. “Já houve inúmeros casos em que recusamos fechar contrato com pessoas psicologicamente desequilibradas, dizendo que iriam matar o marido ou a mulher caso fosse constatada uma traição”, explica Dias, chefe de agência investigativa com quase 30 profissionais.
Uma investigação conjugal costuma ser solucionada em até sete dias e custa cerca de R$ 5 mil. A detetive Daniele Martins, de 31 anos e 13 na atividade, diz que um dos casos mais chocantes foi de uma cliente desconfiada de traição. Ao entregar fotos e vídeos em restaurantes e motéis, a contratante se desesperou. “Foi uma reação forte, que nos assustou muito. Quando ela se acalmou, contou que a amante era a própria filha dela, ou seja, a enteada do marido.” Nessa agência, 80% das investigações são conjugais.
Em família
Entre os perfis de investigação, há um tipo que tem crescido nos últimos anos: a investigação familiar. Pais contratam para saber se o filho está usando drogas e também se o filho é homossexual. “Fiz um trabalho uma vez para investigar um jovem de classe alta. Ele abandonou a família e descobrimos que foi vender droga na cracolândia”, afirma Dias.
Os detetives fecham também contratos mensais e anuais, em geral com empresas e órgãos públicos. Quinzenalmente, por exemplo, Dias vai a salas de reuniões e usa um scanner importado de Israel capaz de identificar grampos e microcâmeras escondidas em vasos, teto e até em janelas – receio que tem rondado políticos após denúncias de corrupção em Brasília.
Nesses ambientes, conta ele, a cada 100 buscas, há confirmação de equipamentos de espionagem em 30 deles, em média. “A contraespionagem é um dos carros-chefe. Tem crescido a busca pela proteção à informação.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.