O atentado contra o ex-presidente americano Donald Trump consolida a percepção de que o republicano é favorito para vencer as eleições deste ano, afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Com isso, a tendência é de aumento das taxas longas de juros dos Estados Unidos, diante das incertezas sobre o futuro da política fiscal do país.
"O juro americano deve começar a cair no segundo semestre, porque estamos vendo a inflação em queda, mas a taxa longa de juros deve sentir o impacto dessa chance de um fiscal mais complicado", diz o economista. "Vai ter uma grande preocupação sobre qual vai ser a política fiscal, e isso cobra um preço a mais nos juros."
Vale lembra que os EUA já têm um cenário fiscal complexo, com déficit na casa de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma perspectiva de aumento dos gastos com previdência no futuro. Um ajuste fiscal no país necessariamente passaria por algum aumento da arrecadação, mas Trump tem se manifestado contra essa possibilidade, explica.
"Trump fala em cortar impostos para tentar aumentar o crescimento da economia e elevar a arrecadação, mas isso não funcionou quando se tentou", diz Vale.
<b>Dólar</b>
A perspectiva de uma taxa de juros mais alta, no entanto, não vai levar automaticamente a um cenário de fortalecimento global do dólar, segundo o analista. Vale destaca que, se a elevação das taxas ocorrer na esteira de uma perspectiva de maior risco para a política fiscal, o impacto direto pode ser de desvalorização da moeda americana.
"O comportamento da economia dos EUA tem sido cada vez mais parecido com a América Latina. Aqui, nós temos episódios de aumento dos juros por causa da incerteza fiscal e enfraquecimento do câmbio", explica.
Na avaliação do economista, tudo indica também um aumento do risco geopolítico, com a diminuição do papel dos Estados Unidos em episódios globais como a guerra na Ucrânia e o aumento do protecionismo econômico.