"Sapinho que nós beijamos e transformamos em príncipe", foram as palavras que Abel Ferreira usou para definir Deyverson, o complexo personagem que cansou de viver altos e baixos no Palmeiras e no sábado alcançou o seu auge ao marcar na prorrogação contra o Flamengo o gol que garantiu o terceiro título da Copa Libertadores à equipe alviverde.
O atacante havia chorado após marcar o gol e voltou a derramar lágrimas na curiosa e emotiva entrevista coletiva na qual falou ao lado do treinador português. O atacante chamou o técnico de "pai", agradeceu a chance que ganhou, não só de jogar a decisão continental, mas de ser reintegrado ao elenco em junho passado, depois de retornar de empréstimo do Alavés, da Espanha.
"Vou falar do Abel até morrer. Acreditou em mim. Bateu no peito. Muita gente não acreditou em mim e disse que ia dar dor de cabeça. Ele me chamou e disse: estou te trazendo porque o grupo te abraçou. Fiquei feliz de ouvir isso. Já jogamos contra já. Eu jogava no Belenense (de Portugal)", recordou-se o atacante. "É uma gratidão eterna que tenho a ele. Só ele sabe o que eu passei. Tive altos e baixos, mas nunca abaixei a cabeça, respeitando o meu momento, o do treinador. Sei que é para o bem do clube, da equipe", prosseguiu.
Abel apostou em Deyverson e decidiu reintegrá-lo porque o grupo pediu e em razão do caráter do jogador, segundo ele. "Quando falamos em reforços, se me derem para escolher entre um craque e um homem, se o craque não sabe o que é coletivo não serve para a minha equipe. O Deyverson não é o melhor atacante do mundo, nem eu o melhor treinador, mas em conjunto formamos um elenco forte", salientou o treinador, que já rejeitou reforços de peso, como Hulk.
Deyverson transformou a coletiva em uma entrevista descontraída e interessante. Ele mandou um recado para que as pessoas valorizem suas famílias, fez um desabafo longo sobre as críticas que os atletas sofrem que magoa a família deles e discursou sobre o favoritismo apontado para o Flamengo antes da decisão.
"Quando eu vejo televisão vejo pessoas falando que Flamengo ia ganhar de 3, 4 a 0 é difícil. A gente tem que entender que há um ser humano vestindo a camisa. A gente absorve as coisas e não sente tanto, mas nossa família sente. Ficam os vídeos, as mensagens. Machucam nossos familiares", desabafou antes de mais uma vez enaltecer o seu treinador.
"Eu sou um maluco bom. O Abel renunciou a estar com a família para estar aqui. O que ele faz é o melhor para o grupo. Ele é coração. Faz o que sente. Sofreu para chegar aonde chegou", opinou.
Com Abel e Deyverson, a delegação do Palmeiras decolou de Montevidéu às 23h30. Após o desembarque na madrugada deste domingo, os jogadores vão direto para a Academia de Futebol, onde haverá um trio elétrico para comemorar o tri da Libertadores.