Imortalizado em seus icônicos personagens, que ainda hoje povoam o imaginário brasileiro, Dias Gomes será lembrado por suas obras, que ganharam os palcos e as telas com reconhecimento internacional. Nascido em 19 de outubro de 1922, em Salvador, na Bahia, o escritor e dramaturgo será homenageado em seu centenário pela tradicional exposição do Itaú Cultural. A Ocupação Dias Gomes será aberta para convidados nesta quarta, dia de seu nascimento, e na quinta para o público, ficando em cartaz até 15 de janeiro.
Dividida em oito eixos, a mostra conta com 170 itens para revelar ao público o universo de Dias Gomes, com uma obra que se vale do realismo fantástico e, marcada por crítica social, traz à luz temas relevantes, que continuam atuais.
Não tem como não se divertir com personagens fortes e exagerados como o prefeito Odorico Paraguaçu, de O Bem-Amado, querendo inaugurar um cemitério de qualquer jeito, mesmo que seja com um morto encomendado. Por ter recorrido à escrita criativa no período da ditadura militar, Gomes precisou usar a imaginação para burlar a censura – o que por vezes não foi possível. Sua novela Roque Santeiro, por exemplo, foi proibida em 1975, só conseguindo ir ao ar dez anos depois.
A Ocupação mostra o método de trabalho, vida e obra do autor. Para isso, uma parceria com a Rede Globo e com sua família possibilitou a inclusão de cerca de 50 fotos e 10 vídeos, com depoimentos de artistas e colegas, além de entrevistas do próprio homenageado.
<b>HOMEM DE TEATRO</b>
Terá ainda trechos de novelas, textos de pesquisa, rascunhos e originais de peças, roteiros, bilhetes e cartas de amigos, como Jorge Amado e Ferreira Gullar. Em um dos ambientes, está o fardão que ele usou na Academia Brasileira de Letras (ABL), na qual entrou em 1991. Dias Gomes morreu em 1999, aos 76 anos, após acidente de carro.
Segundo Carlos Gomes, coordenador do Núcleo de Artes Cênicas, Música e Literatura do Itaú Cultural e curador da mostra, "Dias Gomes se considerava essencialmente um homem de teatro" – tanto que escreveu sua primeira peça já aos 15 anos. Por isso mesmo, um dos destaques nessa área é o espaço reservado para O Pagador de Promessas, texto que estreou no teatro em 1959, sob direção de Flávio Rangel, mas que ganhou depois outras versões. A mais festejada certamente foi a cinematográfica. A adaptação de Anselmo Duarte se transformou no primeiro filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 1962.
Outra parte da Ocupação é dedicada à vida de Dias Gomes, com sua trajetória pessoal – da perda do pai, Plínio, ainda criança, aos 3 anos, à influência da mãe, Alice, uma amante de óperas, e de seu único irmão, Guilherme, também escritor.
Seguindo o trajeto da Ocupação, surge o eixo destinado às novelas. "Nesse ponto destacamos três grandes folhetins, que são O Bem-Amado, Roque Santeiro e Saramandaia", explica Carlos Gomes. Nesse espaço, estão desenhadas no chão as asas do personagem João Gibão, de Saramandaia. Com um jogo de espelhos, o visitante terá a sensação de estar voando em um céu azul. A programação inclui ainda leitura de textos do autor. E a plataforma Itaú Cultural Play disponibiliza o filme O Pagador de Promessas, que será exibido pelo Canal Brasil nesta quarta, às 20h.
<b>BIOGRAFIA</b>
Fora de catálogo há quase 25 anos, sua autobiografia, Apenas um Subversivo, ganhou nova edição pela Bertrand Brasil, que edita a obra de Gomes. O título é uma referência irônica a xingamento recebido quando sua peça O Berço do Herói foi censurada pelo governador Carlos Lacerda, em 1965, por pressão dos militares: "Nelson Rodrigues é só pornográfico. Dias Gomes é pornográfico e subversivo!". Na obra, Gomes narra sua relação com a política e os bastidores do teatro, do rádio e da TV.
<b>Ocupação Dias Gomes</b>
Itaú Cultural. Av. Paulista, 149. Tel. 2168-1777. 3ª a sáb., 11h às 20h; dom. e fer., 11h às 19h.
Até 15/1/2023. Gratuito. Abertura nesta quarta, 20h, para convidados.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>