Variedades

Dilemas dos ianomâmis será debatido na Flip

Na sexta-feira, 01, a fotógrafa Claudia Andujar reencontra o amigo ianomâmi Davi Kopenawa, que conhece há 40 anos, na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Não há motivos para comemorar na mesa de que participação, apropriadamente intitulada Marcados, referência ao título do livro de 2010 em que ela retrata os últimos remanescentes da tribo. Davi foi, mais uma vez, ameaçado de morte pelos invasores do território dos ianomâmis, mais de 2,5 milhões de hectares de uma região montanhosa e árida que Claudia ajudou a preservar quando se envolveu com os índios nos anos 1970. Ao lado da fotógrafa na entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, denunciou não só sua perseguição como a omissão do governo federal sobre o desvio de recursos que seriam destinados à compra de medicamentos e aos profissionais de saúde.

“Há falta de equipamentos e de remédios, as crianças estão morrendo de verminose e desnutrição e fomos obrigados a expulsar funcionários do Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) de nossas terras”, diz ele.

Xamã de sua comunidade, Davi lembra as últimas palavras de um desaparecido representante religioso dos índios: “Quando o último xamã morrer, então será o fim dos ianomâmis”. A profecia é citada com pesar pelo líder Kopenawa, que está se esforçando para transmitir seus conhecimentos aos jovens de sua comunidade.
Igualmente empenhada na difusão da sabedoria xamã, Claudia Andujar mostra, ainda na mesa de sexta, um vídeo inédito de 17 minutos com imagens de xamãs em ação.

Nascida há 83 anos na Suíça, Claudia Andujar começou a se interessar pela cultura dos ianomâmis em 1970, quando a extinta revista Realidade lhe encomendou uma ampla reportagem sobre a região amazônica. Mais que imagens da natureza local, ela trouxe de lá uma série de fotos que correram mundo, denunciando as consequências da abertura de estradas durante o regime militar, entre elas a disseminação de doenças introduzidas pelo homem branco na selva e a voracidade dos garimpeiros que devastavam de forma predatória a paisagem local. Mais de 1.500 comunidades foram dizimadas. Em 1978, ela coordenou uma campanha pela criação de uma reserva indígena, finalmente reconhecida em 1992, durante o governo Collor. Parecia ser a solução definitiva, mas era só o começo de uma luta, registrada em diversos livros publicados no Brasil e no exterior. O mais recente, Marcados, reúne retratos de ianomâmis com números no pescoço, remetendo ao trágico passado pessoal da fotógrafa, que viu o pai, amigos de escola e seu primeiro namorado serem levados pelos nazistas para o campo de extermínio de Auschwitz nos anos 1940.

Mostra

As imagens de Marcados e de outros livros publicados pela fotógrafa serão ampliadas e vão ocupar o pavilhão que será dedicado a ela por Inhotim, o centro de artes criado em Minas pelo empresário Bernardo Paz. Claudia Andujar não vê inconveniência na proposta. “Estou consciente de que se trata de uma região de mineração, que deve ter passado pelos mesmos problemas de exploração, mas é justamente por isso que é preciso mostrar como é possível preservar o ambiente”, justifica a fotógrafa. Em 2010, ela e o curador do pavilhão, Rodrigo Moura, viajaram pelo parque dos ianomâmis para fotografar o cotidiano dos membros das comunidades indígenas, hoje reduzidos a pouco mais de 20 mil.

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