Opinião

Dilma e sua herança maldita

O jornal argentino La Nación, em sua edição desta quinta-feira, atribui a queda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, a uma “herança maldita” deixada à presidente Dilma Roussef pelo seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Foi uma analogia ao que Lula dizia ter recebido na economia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A publicação lembra que os dois ministros derrubados por escândalos – Antonio Palocci, da Casa Civil, no mês passado, e agora Nascimento, na quarta-feira – são ligados a Lula, de quem também haviam sido ministros.


A análise do jornal argentino é bastante pertinente e pode abrir margem para uma reflexão ainda maior: será que Dilma poderá realizar uma boa administração sem se desvencilhar das amarras políticas que a levaram ao poder? Talvez não. A própria sucessão de Nascimento nos Transportes, pelo que tudo indica, não deverá ser técnica como poderia querer a chefe da Nação. Mas pode ser política, inclusive com a interferência do próprio ministro que sai, já que ele é presidente do PR e senador da República.


Vale ressaltar ainda que os casos de corrupção, que levaram à queda de Nascimento, não se resumem aos seis meses de governo Dilma. Diferente disso, estaria enraigados no Ministério dos Transportes há muito tempo, sob a anuência do ex-presidente que sempre teve a preocupação de defender Alfredo Nascimento, inclusive indicando-o para permanecer à frente da Pasta. Porém, apesar de afastado agora, Dilma também não pode posar de paladina da moralidade. Em 2009, ela mesma, durante uma entrevista, defendeu – com unhas e dentes – a integridade do ministro, chegando a afirmar que o apoiaria em qualquer cargo que pleiteasse. Na época, tentou o Governo do Amazonas sem sucesso.


E não precisa ir muito longe. Na segunda-feira, tanto Dilma confiava em Alfredo Nascimento que, mesmo com as denúncias em torno do Ministério, decidiu não só mantê-lo no cargo, mas também deixá-lo à frente das investigações, o que parecia ser um grande contrassenso. Porém, o ministro protegido de Lula não resistiu a mais dois dias, com novas denúncias sendo publicadas pela mídia, envolvendo inclusive o próprio filho do ministro, cuja firma aumento seu capital em mais de 8.000% em menos de quatro anos. Algo de dar inveja até mesmo a Palocci.

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