Opinião

Dilma inicia gestão em busca de novas privatizações

Um dos temas que tomou conta de boa parte dos horários eleitorais, durante a campanha para a Presidência da República, no ano passado, foi a privatização. A então candidata Dilma Roussef (PT), embalada pela popularidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, bateu na tecla de que seu opositor, José Serra (PSDB), a exemplo do que ocorreu nos oito anos de Fernando Henrique Cardoso, tinha uma grande tendência voltada à privatização de empresas públicas Chegou até a garantir que, em caso de vitória do tucano, até a Petrobras, um dos bens mais preciosos do país, seria entregue à iniciativa privada.


 


Foram diversos embates e trocas de acusações em relação a quem privatizou mais, sobre quem mais se beneficiou das empresas assumidas por grupos particulares. Sempre com ênfase de que Dilma privilegiaria as estatais, enquanto Serra agiria contra os interesses do Estado. Entretanto, tirando algumas ideologias, a prática demonstra que o Brasil só avançou realmente após a iniciativa privada assumir alguns segmentos que pareciam empacados nas mãos do governos federal e estaduais. Exemplos não faltam nos setores de energia, telefonia e em rodovias, entre outros.


 


Pois bem. Mal assumiu a Presidência e a “estatizante” Dilma já admite que os novos terminais dos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, em Campinas, vão ser construídos por empresas privadas, que ficarão com as concessões de exploração nos próximos 20 anos. Nada contra isso. Apenas o fato de que ela se elegeu condenando tal prática.


 


Não é novidade para ninguém que o setor aeroportuário no Brasil apresenta grandes gargalos. Desta forma, Dilma prevê ainda a abertura à iniciativa privada do capital da empresa estatal que gera o setor aeroportuário, a até então “imexível” Infraero. Vale lembrar que a ideia de passar a administração de todos os terminais aeroportuários do Brasil a particulares tinha sido proposto pelo ministro da Defesa de Lula, Nelson Jobim – que se manteve no cargo com Dilma. Porém, na ocasião, temendo prejuízos eleitorais, o ex-presidente rejeitou a ideia.


 


Mais uma vez, importante ficar claro, que não se deve temer as privatizações. O mundo tem inúmeros exemplos de países que só se desenvolveram realmente a partir do momento em que o Estado deixou de interferir em setores que poderiam ser melhor geridos por empresas privadas. O Brasil vive isso. Só que, para muitos eleitores de Dilma e até para ela mesma – em seus discursos de campanha – essa prática não encontraria eco em seu governo. No entanto, a venda dos aeroportos parece que ocorrerá muito antes de que muita gente possa imaginar.


 


Dilma, a exemplo de Lula em seu primeiro mandato, quando preferiu manter a política econômica que tanto criticou, implantada por Fernando Henrique, também começa contrariando algumas de suas convicções. Se for para o bem do Brasil, que siga desta forma. O problema é que ela correrá o risco de frustrar justamente a massa crítica da sociedade que tanto a defendeu e a levou à vitória em outubro.

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