Ser a voz de hits como I Say a Little Prayer e Ill Never Fall in Love Again, que chegaram aos ouvidos de diferentes gerações, é um dos trunfos de Dionne Warwick, que começou a cantar na década de 1960. “É maravilhoso fazer parte de um momento feliz na memória das pessoas. Espero continuar assim”, deseja a cantora, com 75 anos, que voltará a fazer shows no Brasil com seu repertório clássico. Ela começa por São Paulo, na quinta (28), e segue para o Rio e Belo Horizonte.
Figura frequente no País desde os anos 1990, quando alugou uma casa na capital fluminense, a norte-americana afirma que o Brasil é um de seus lugares favoritos. “Chamo de quintal de Deus e de minha segunda casa”, derrete-se ela, que garante manter laços com os colegas daqui. “Ainda estou em contato com todos os meus amigos do Brasil, como Ivan Lins, Simone (o produtor musical) Téo Lima e Milton Nascimento”, enumera.
Para as apresentações desta turnê, Dionne convocou Isabella Taviani, com quem regravou Close To You no recente disco que a brasileira criou em homenagem à dupla The Carpenters, que também fez sucesso com a canção. “O arranjo foi feito por Larry Goldins, o mesmo de James Taylor. Gravamos com Dionne no renomado Capitol Studios, em Los Angeles. Foi incrível”, relembra Isabella. “Admiro o talento e a música da Isabella”, elogia a veterana.
Dionne avisa que vai repetir seus hits como I Know, Ill Never Love This Way Again e Message to Michael. “Felizmente, minhas gravações são conhecidas pelo público brasileiro. Sou identificada por isso e é o que esperam de mim”, defende ela, que, em 1994, lançou o CD Aquarela do Brasil e interpretou composições de Tom Jobim e Ary Barroso em português.
A norte-americana diz saber que há uma imbróglio político no País e que a presidente Dilma Rousseff passa por um processo de impeachment. “Assim como muitas pessoas, ouvi falar e li sobre isso. Devo dizer que sinto muito se isso for uma possibilidade”, declara. A outra crise mais presente na vida da Dionne Warwick é a financeira. Em 2013, ela declarou falência pessoal. Segundo a imprensa internacional, a artista acumulou uma dívida de cerca de US$ 10 milhões por impostos não pagos desde os anos 1990.
O advogado da cantora alegou na época que os ex-empresários não geriram seus negócios de maneira correta, o que fez com que ela trocasse uma mansão em Los Angeles por uma casa alugada em New Jersey, onde nasceu. Das perguntas enviadas por e-mail pelo Estado, a questão sobre sua situação foi a única que a cantora não respondeu.
Descoberta na década de 1960 pela dupla de compositores Burt Bacharach e Hal David, autores de grande parte de seus hits, Dionne liderou as paradas de sucesso nos primeiros singles lançados. Ao longo da vida, vendeu mais de 100 milhões de discos em todo o mundo.
Em uma tentativa de reerguer a carreira, ela lançou no ano seguinte o disco Feels So Good, em que regravou seus sucessos com cantores como Ziggy Marley, Cindy Lauper e estrelas do pop e R&B atual, como Ne-Yo e Cee-Lo Green, além de sua neta, Cheyenne Elliot. “Feels So Good me deu a oportunidade de conhecer alguns dos novos artistas e lhes deu a chance de conhecer as canções que gravaram comigo. É maravilhoso fazer uma ponte entre as gerações, particularmente no do que diz respeito à música.”
Por conta de seu destaque no mercado fonográfico, a cantora foi uma das primeiras artistas a fazer campanhas e arrecadar fundos para diferentes causas. Em 1985, se juntou a Elton John, Stevie Wonder e Gladys Knight para gravar Thats What Friends Are For, que acumulou US$ 3 milhões para ajudar vítimas da aids. “Como embaixadora da FAO (divisão das Organização das Nações Unidas para alimentação e agricultura), continuo a lutar por questões de saúde relevantes no mundo, como a fome, serviço médico e educação”, reforça ela.
Umas da primeiras negras a receber um Grammy, troféu que já venceu cinco vezes, desde os anos 1960, Dionne acredita que o preconceito ainda precisa ser combatido em premiações da indústria do entretenimento, assim como no Oscar deste ano, em que artistas não foram à festa em protesto contra a falta de atores negros na competição. “Parece que o mundo inteiro precisa mudar, não só os Estados Unidos.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.