As ressalvas do candidato do PSL, Jair Bolsonaro, aos investimentos chineses refletem “falta de conhecimento do conteúdo estratégico da parceria entre os dois países”, disse na quinta-feira, 25, o ministro-conselheiro da Embaixada da China no Brasil, Qu Yuhui. Bolsonaro declarou recentemente que não venderia ativos de geração de energia a investidores chineses e acrescentou que eles estão “comprando o Brasil”.
“Estamos abertos para conversar com qualquer político que esteja disposto a fortalecer nossa parceria”, afirmou o diplomata durante entrevista para divulgar a Feira Internacional de Importação da China, que será realizada em Xangai em novembro. “Entendemos que o novo governo terá uma nova agenda e que vamos precisar de um período de adaptação.”
Ele deixou claro, porém, que a questão de Taiwan é um tema sensível para a China e seu povo. “É uma questão de soberania”, afirmou. O comentário foi feito após ser questionado sobre a visita que Bolsonaro fez à ilha no início deste ano. A China considera Taiwan parte de seu território, o que também é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), com apoio inclusive do governo brasileiro.
Ao mesmo tempo em que expressou o desagrado da China com a visita, o diplomata sinalizou que esse fato não será empecilho para se estabelecer uma boa relação com um eventual governo de Jair Bolsonaro. “Não vejo nada que tenha fundamento substancial para criticar a nossa parceria”, afirmou. “Nosso desejo com o próximo governo é que siga a trajetória de crescimento na parceria, que beneficia muito os dois povos.”
Nesta semana, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o colaborador de Bolsonaro e professor da Universidade Columbia Marcos Troyj disse que a ida do candidato a Taiwan não dificultaria o relacionamento com os chineses.
Igualmente, Troyjo acredita que os chineses compreenderão se for adotada restrição à entrada de investimentos estrangeiros em determinados setores da economia brasileira. Além da geração de energia, já dita por Bolsonaro, há uma preocupação entre militares que colaboram com o candidato com a compra de terras pelos chineses.
Integrante do conselho diretor do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e diretora do Instituto de Estudos Brasil-China, Anna Jaguaribe afirma que, dada a dimensão da parceria estratégica entre os dois países, nenhum dos dois candidatos vai querer mudá-la.
Ela ressalta que, em nenhum cenário, por exemplo, o Brasil vai querer sair do Brics, o bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Tampouco vai deixar de integrar o chamado Banco dos Brics, que financia projetos em infraestrutura. “Isso tudo foi construído ao longo de anos”, disse. Outra instituição considerada importante, no campo político, é a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). O Brasil deverá assumir as presidências temporárias dos Brics e o banco dos Brics em 2019.
Parceria
O Brasil terá de manter relação com a China, também, porque vai precisar de duas coisas que o país oferece: investimentos diretos e investimentos em infraestrutura. “A China é parte da resposta e não o problema”, afirmou Anna Jaguaribe.
Para a especialista, há muito “ruído de campanha” no campo internacional, mas o Brasil deve manter o pragmatismo. Mesmo num cenário de guerra comercial entre Estados Unidos e China, os dois países mantêm um leque variado de relações. O País deve fazer o mesmo.
A especialista diz que, além da relação comercial e econômica, é interessante ao Brasil manter relações políticas com a China, porque ela desfruta de um enorme espaço internacional. Anna cita como exemplo as dificuldades que o Brasil enfrenta para tornar-se membro da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), por causa dos Estados Unidos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.