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Dira Paes é homenageada na abertura da Mostra de Tiradentes

São 30 anos desde que, garota, Dira Paes foi escolhida para o importante papel da índia por quem se apaixona o inglês perdido na selva de A Floresta das Esmeraldas. Ser escolhida por John Boorman provocou um vendaval na vida – e na cabeça – da jovem de 16 anos. Nascida numa família mais vinculada às exatas que às artes, Dira vacilou, sem saber se era aquilo que queria para ela. Hoje, ri da indecisão. Virou atriz, e por 20 anos emendou um filme atrás do outro, fazendo história no cinema da Retomada, e após. Há 10 anos, a televisão entrou em sua vida, e foi outro vendaval.

Dira, de atriz cultuada, virou estrela – uma celebridade, por menos que goste da palavra. A diarista passou a ser assediada pelo público na rua e, no começo do ano passado, quando a minissérie Amores Roubados estourou na Globo, ela virou musa do verão. Aos 46 anos, e com aquele corpaço – uau! Dira com certeza vai se lembrar de tudo isso na noite desta sexta-feira, 23, na abertura da Mostra de Tiradentes, na qual será homenageada, recebendo um tributo de carreira. No começo de dezembro, por ocasião da estreia de Os Amigos, de Lina Chamie, ela estava em tratativas com a organização da mostra mineira. Guardou silêncio, mas no íntimo, confessa, o convite mexeu com ela.

“Revisitei o passado sem nostalgia. Repensei os filmes, as escolhas. Tive grandes encontros por intermédio do cinema. John Boorman foi homenageado, anos atrás, no Festival de Manaus. Ficamos todos esses anos sem nos ver, mas foi como se o tempo não tivesse passado. Eu, mulher feita, continuava menina, e ele, o mestre.” Tiradentes vai fazer uma retrospectiva com filmes emblemáticos da carreira de Dira, mas hoje (23), na abertura, o programa é uma novidade, e das mais esperadas.

A adaptação de Órfãos do Eldorado, de Milton Hatoum, por Guilherme César Filho, permite à paraense, que Dira nunca vai deixar de ser, viajar no que chama de encantaria amazônica. A história de Arminto Cordovil, que integra a aristocracia da borracha, no Norte do País, e é expulso do casarão, após ter uma relação incestuosa com a irmã. Dira faz a sua cuidadora, mas logo outros sentimentos se superpõem, outras leituras se tornam possíveis. “Ainda não vi o filme, estou muito curiosa.” No começo, ela fez muito filme pequeno, autoral.
Virou uma espécie de reserva de um cinema mais seletivo. E aí, em 2005, houve a revolução – ela entrou para a TV, fez 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira, um megassucesso, organizou o Festival de Belém.

De repente, estava em todas as frentes. Uma outra Dira começou ali – mais solta. Mais sexy? “Não tenho medo de envelhecer, nunca tive. Acho bacana essa coisa de as pessoas verem o potencial da mulher madura, mas sem deslumbramento. Não quero ser escrava de uma fantasia. E a verdade é que a mulher não tem prazo de validade.” Ela sente que hoje está mais dona dela mesma. Quando jovem, achava que seu tipo mestiço fugia ao padrão estético – à ditadura das loiras? Pois foi a aparência de brasileira amazônica, a morenice que fez dela uma sex symbol.

No cinema, logo revelou que tinha temperamento dramático, podendo tanto ser uma cangaceira (em Corisco e Dadá, de Rosemberg Cariry) como uma mulher dos pampas (Anahy de las Missiones, de Sérgio Silva). Casada com o cinegrafista Pablo Baião, conheceu o marido no set de Amarelo Manga, de Lírio Ferreira, mas foi em outro set, o de Os Incuráveis, de Gustavo Acioli, que houve o clique.
Estão juntos desde então, tiveram um filho. E agora ela pode dizer que o fato de ser cidadã e mãe do Inácio potencializa a libido. É uma mulher plena – isso se percebe nos novos filmes. Além de Órfãos do Eldorado, tem pronto para estrear o novo longa de Tizuka Yamasaki, Encantados, e segue nos cinemas com Os Amigos, de Lina Chamie, e O Segredos dos Diamantes, de Helvécio Ratton. Na TV, aguarda definição da Globo para novos trabalhos.

E no teatro, adorou fazer o infantil Dona Sofia e Sua Caligrafia, com Flávio Bauraqui e direção de Luciana Buarque, que cuidou dos figurinos de Hoje É Dia de Maria. “Baseia-se no livro de André Neves sobre mulher que decora as paredes da casa com poesias e ganha ajuda de um carteiro para divulgar seu amor pela palavra.” Esse amor pelo texto é próprio de Dira. Está fascinada por Dalcídio Jurandir, autor paraense que morreu em 1979 e segue pouco editado. “É maravilhoso.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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