Adam Wingard não cresceu vendo filmes de terror. “Eu tinha medo”, contou ao jornal “O Estado de S. Paulo” durante o Festival de Toronto. Só foi ver os primeiros exemplares no ensino médio – e, mesmo assim, ficou tão assustado com O Chamado (2002) que mudou de cadeira numa sessão para ficar ao lado do irmão e da namorada dele. Foi esse longa que despertou em Wingard a vontade de mergulhar no gênero como cineasta.
Depois de produções como Você É o Próximo (2012), ele encara a sequência de A Bruxa de Blair, de Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, que fez barulho em 1999 e inaugurou a febre do “found footage”, com imagens documentais feitas pelos personagens. Bruxa de Blair volta à floresta de Black Hills quando James (James Allen McCune) e sua turma resolvem investigar o que aconteceu lá dez anos antes. Wingard, que fez a pré-estreia do filme no Festival de Toronto, conversou com o jornal.
Quando A Bruxa de Blair saiu, o found footage ainda era novidade. Depois disso, muitos filmes usaram o recurso. Qual o desafio de utilizá-lo de forma que não pareça velho?
O found footage precisa acompanhar a tecnologia do seu tempo. Meu objetivo, então, era dizer: “Ok, quem vai para a floresta faz que tipo de imagens, com qual equipamento?”. Provavelmente, não seriam usados mapas, mas GPS. É legal ver como a tecnologia moderna sobrevive na floresta. Também tentamos explorar coisas novas no found footage, por exemplo, cenas filmadas por um drone, que dão certo respiro.
Claro que você quer que o público não pense no found footage, mas, se alguém resolver estudar o filme tomada a tomada, todas vão ser found footage?
Nunca abandonamos as regras. Obviamente, usamos câmeras diferentes das que os personagens utilizam, porque aquelas câmeras Bluetooth acopladas ao ouvido geram imagens muito pequenas, com uma qualidade pior do que a das tomadas mais tremidas do filme original.
Ainda assim, foi difícil decidir que era preciso um visual melhor porque não queria que fosse bom demais. Meu desejo era que o filme tivesse esse apelo rústico, sujo.
E depois de A Bruxa de Blair 2, que abandonou o estilo, você nunca imaginou rodar sem que fosse found footage?
Exato. Como fã do primeiro filme, minha maior decepção foi o fato de não ser found footage. Mas era o começo dessa tecnologia, fazia sentido o estúdio ficar com medo e deixar o formato. Esta é a linguagem de Bruxa de Blair. Se você vai fazer um desses filmes, tem de ser found footage. Na verdade, não é apenas uma linguagem, mas a maneira como reconhecemos esse universo.
Há hoje pressão para que os reboots de franquias adormecidas sejam parecidos com os filmes originais?
Sim, o principal era pegar o que gostávamos no primeiro filme e dar um tratamento à la O Despertar da Força, em que, para limpar o paladar de Star Wars, tiveram de fazer uma refilmagem da produção original de 1977.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.