O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, avaliou nesta quinta-feira que vê com naturalidade a redução da liquidez mundial ao longo de 2022, com o fim de medidas lançadas por diversos bancos centrais no início da pandemia de covid-19 no ano passado. "Sempre que começamos um programa, se ele tiver emergencial no nome e no foco, ele deveria ser repensado em momentos de funcionamento normal dos sistemas financeiros", afirmou, em participação no 11º Congresso Internacional de Gestão de Riscos, organizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Segundo Serra, o resultado dos estímulos lançados durante a crise foi uma demanda por consumo de bens mais forte do que se previa, com impactos na oferta e demanda e pressões inflacionárias. "A economia, o mundo e as pessoas se adaptaram de alguma forma, o consumo se recuperou bastante e o sistema bancário foi parte da solução", completou.
Ele admitiu que a redução de liquidez no mundo talvez ocorra em momento mais desafiador do que se esperava. "Está todo mundo precisando retirar estímulos em momento de pressão de inflação. Estamos nos preparando para isso. Em 2021, a discussão é retirada organizada de estímulos da pandemia. É desafiador, mas o Brasil está bem colocado, quando se pensa em outros choques de liquidez internacional do passado", argumentou.
<b>Encontrar saídas</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central avaliou que após a expansão da liquidez durante a pandemia de covid-19, é preciso encontrar saídas para os instrumentos de crise. "O desafio sempre muito grande tirar essa expansão de liquidez após colocar instrumentos de crise. Mas precisamos caminhar para voltar à normalidade, conforme o funcionamento da economia, do sistema bancário e conforme a fluidez da liquidez volta a uma condição normal", afirmou.
Serra lembrou que o BC planejou uma "saída suave" dessa liquidez, como o retorno da alíquota dos compulsórios à prazo de 17% para 20%. "Mas os bancos que depositarem ativos elegíveis para ter acesso às Linhas Financeiras de Liquidez (LFL) serão dispensadas do mesmo montante de depositar compulsórios. A expectativa é de que boa parte desses R$ 42 bilhões em retorno de compulsórios não aconteça", repetiu.
O diretor adiantou ainda que o BC trabalha para lançar futuramente uma nova LFL focada em ativos sustentáveis.
<b>Nível do compulsório</b>
O diretor de Política Monetária do Banco Central reconheceu que o nível de depósitos compulsórios no Brasil em porcentual do PIB é bastante elevado, mas alegou que a instituição também tem o objetivo de garantir a estabilidade financeira no País. "Na falta de outros instrumentos de gestão e liquidez do sistema, os compulsórios foram os instrumentos padrão usados nos últimos 30 anos. Para ter esse instrumento, era necessário ter um colchão suficientemente confortável", afirmou.
Ele lembrou que em 2008 o BC liberou parte dos compulsórios, recompondo nos anos seguintes. "O que fizemos em 2020, logo no início da pandemia, foi uma aceleração da agenda de redução estrutural dos compulsórios. Conjuntamente, veio a criação de novas linhas de liquidez com bons ativos das instituições financeiras, que é um jeito mais eficiente para o BC atuar em crises de liquidez", explicou. "O compulsório já é menor hoje, entre 4% a 4,5% do PIB no compulsório remunerado", completou.
Serra destacou que o aprimoramento das linhas financeiras de liquidez, a redução estrutural dos recolhimentos compulsórios e o aumento da eficiência do BC na atuação no mercado monetário já eram diretrizes que a instituição tinha antes mesmo da pandemia.
"Apesar de termos colocados muita coisa de pé durante a crise, nada foi feito do zero. Temos uma agenda de longo prazo que começou na gestão anterior do BC e continuou na atual", lembrou o diretor. "E concordo que ainda podemos almejar muito mais dessa agenda, mas tem que ser um processo seguro como foi até aqui", avaliou.