Estadão

Dirigente do Fed espera corte de juros este ano, mas alerta contra alívio cedo e rápido demais

A presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de Cleveland, Loretta Mester, reiterou nesta terça-feira, 6, que a autoridade monetária deve cortar juros em algum momento neste ano, mas buscou alertar para o "erro" que seria reduzi-los cedo demais ou muito rapidamente.

"Fazer isso prejudicaria todo o bom trabalho realizado para levar a inflação a este ponto", afirmou a dirigente do Fed, em discurso durante fórum econômico em Columbus, Ohio.

Mesmo assim, a dirigente admitiu que, se as expectativas inflacionárias continuarem caindo, a manutenção da taxa básica em nível restritivo por um período excessivamente prolongado representaria um aperto monetário, o que ameaçaria o lado de emprego do mandato duplo do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês).

Mester, que vota nas reuniões deste ano do FOMC, reforçou que as próximas decisões dependerão da evolução dos indicadores econômicos. Para ela, neste momento, os indicadores apoiam a ideia de que os juros devem seguir inalterados.

"Isto é melhor do que encontrarmo-nos numa situação em que começamos a cortar demasiado cedo, anulamos alguns dos progressos que fizemos em matéria de inflação, potencialmente desestabilizamos as expectativas de inflação e depois temos de inverter o curso", argumentou a dirigente.

<b>Inflação</b>

A presidente do Federal Reserve admitiu que a inflação nos Estados Unidos caminha de forma sustentável em direção à meta de 2%, mas demonstrou cautela ao alertar para a existência de riscos que poderiam travar esses progressos. Durante o evento em Ohio, ela explicou que boa parte do alívio inflacionário recente refletiu o arrefecimento dos preços de bens, enquanto o componente de serviços desacelera em velocidade mais lenta.

Ao mesmo tempo, os ajustes necessários no lado da oferta já parecem ter sido concluídos, no entendimento dela. "Agora que as pressões sobre as cadeias de abastecimento estão a aproximando-se do normal e o mercado de trabalho está alcançando um melhor equilíbrio, não devemos contar com tanta ajuda do lado da oferta como vimos no ano passado", advertiu.

A dirigente citou ainda os riscos geopolíticos e o relaxamento das condições financeiras, que também podem ter impacto na inflação. Ainda assim, as tensões no Mar Vermelho tiveram um efeito mínimo e a desinflação acontece mesmo face uma economia resiliente, de acordo com ela. "A política monetária está numa boa posição para avaliar e responder a estes riscos para as perspectivas", disse.

<b>Mercado de trabalho</b>

A presidente do Federal Reserve de Cleveland defendeu também que a autoridade monetária precisa ficar atenta aos riscos de deterioração do mercado de trabalho, ainda que os dados recentes apontem um quadro de emprego resiliente e com desempenho forte.

Ela afirmou ainda que a economia sólida pode sugerir que os juros neutros ficaram mais elevados, "o que significaria que uma política restritiva poderá ser necessária durante mais tempo para alcançar os nossos objetivos de estabilidade de preços e máximo emprego".

A dirigente comentou que o crescimento dos salários continua perdendo força, mas segue acima dos níveis pré-pandemia.

<b>Estresse bancário</b>

Loretta Mester alertou ainda que mais bancos nos Estados Unidos podem continuar enfrentando estresse caso sigam dependendo excessivamente de depósitos sem a cobertura de seguros ou tenham exposição elevado ao mercado imobiliário comercial.

Durante o evento em Ohio, acrescentou que os bancos comunitários são importantes para a economia dos EUA, mas precisam lidar com os riscos atuais.

A dirigente disse ainda que o Fed só seguirá em frente com uma moeda digital por banco central (CBDC, na sigla em inglês) caso o Congresso dê aval, mas busca entender essa tecnologia.

Mester comentou também que o processo de redução de balanço de ativos poderá continuar quando os juros começarem a ser cortados.

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