Estadão

DIs fecham mês em alta firme com piora política e fuga de emergentes

Os juros fecharam a última sessão de junho e do primeiro semestre em alta firme, refletindo uma realização de lucros diante da piora da percepção de risco político e cautela do investidor com ativos emergentes decorrente das incertezas sobre os impactos da variante delta do coronavírus na economia global. Tais fatores encontraram um terreno fértil para correção na curva, após as principais taxas terem fechado em baixa por quatro dias consecutivos. A agenda da quarta-feira, com Pnad Contínua e setor público consolidado, teve impacto neutro nos preços.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular em 5,675%, de 5,616% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 6,973% para 7,07%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 8,07% (7,954% na terça) e a do DI para janeiro de 2027 subiu de 8,43% para 8,49%.

Num mês marcado pela disparada das estimativas de inflação com subsequente sinalização do Banco Central de que seu cenário base agora prevê recomposição total da Selic, a curva perdeu 60 pontos-base na inclinação medida pelo diferencial entre os contratos para janeiro de 2022 e janeiro de 2027, que em 31 de maio era de 341 pontos e nesta quarta fechou em 281 pontos.

O cenário político e o câmbio já puxavam ajustes para cima nas taxas desde a abertura. Novas denúncias de tentativa de corrupção no Ministério da Saúde – desta vez envolvendo a compra da vacina AstraZeneca/Oxford – enfraqueceram ainda mais a figura do líder do governo no Congresso, Ricardo Barros, colocando em xeque o capital político do governo Bolsonaro, já desgastado pelo escândalo da negociação da vacina indiana Covaxin. A política também penalizou ainda o real, juntamente com fatores técnicos relacionados à Ptax de fim de mês que, indiretamente, também ajudaram a curva a abrir.

"Hoje temos a questão da variante delta pressionando emergentes e aqui, adicionalmente, a Ptax, e a política. Ou seja, uma sequência de fatores negativos puxando uma realização", afirmou o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier. No meio da tarde, mesmo com o dólar se acomodando abaixo dos R$ 5 retomados pela manhã, as taxas bateram máximas. "Bolsonaro subiu o tom", explicou Xavier.

Ele se referia a declarações do presidente dadas em cerimônia de inauguração da Estação Radar de Ponta Porã (MS). Bolsonaro chamou os líderes da CPI da Covid de "bandidos" e voltou a enfatizar o papel institucional dos militares. "Além do povo, temos Forças Armadas comprometidas com a democracia e com a liberdade.". A CPI aprovou nesta quarta convocação para que o líder Ricardo Barros preste depoimento.

No fim da tarde, um superpedido de impeachment contra o presidente chegou à Câmara, reunindo os autores dos mais de 100 pedidos já protocolados desde o início do mandato, com 23 tipos de acusações de crimes penais que teriam sido cometidos por Bolsonaro.

De volta à cena macroeconômica, o mercado segue digerindo relativamente bem os reajustes no valor das bandeiras tarifárias de energia. Após aprovar aumento de 52%, para R$ 9,49 a cada 100 kWh, para a bandeira vermelha 2 em julho, a Aneel colocou para consulta pública proposta de elevação a até R$ 11,50 nos próximos meses. A decisão continuou estimulando revisões em alta para o IPCA este ano, mas, ao mesmo tempo, com potencial de aliviar as de 2022. O Banco Fibra elevou sua estimativa para 2021 de 6,40% para 6,50% e manteve em 4,10% a de 2022, mas reconheceu viés de baixa, já que tem como premissa bandeira amarela no fim do ano que vem.

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