Os juros futuros encerraram o dia próximos dos ajustes da véspera, mas com leve viés de alta. Mais uma vez, a curva doméstica refletiu o aumento discreto dos Treasuries. O mercado ainda tenta adequar as apostas em quando o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), começará a reduzir os juros.
Mas a queda do dólar em relação ao real e alguns dados de inflação mais baixos, hoje, fizeram com que as taxas domésticas encerrassem o dia com aumento mais modesto do que as americanas, segundo analistas.
Assim como ontem, dados do mercado de trabalho dos EUA foram o destaque da sessão. O relatório de empregos do país, o payroll, mostrou criação de 216 mil vagas em dezembro – acima do consenso, de 175 mil. Mas revisões na série reduziram o saldo de outubro e novembro em 71 mil empregos, mais do que compensando a surpresa.
No fim do dia, os contratos de depósito interfinanceiro (DI) estavam próximos dos ajustes da véspera. O DI para janeiro de 2025, mais negociado na sessão, passou de 10,044% para 10,075%. A alta também foi moderada nos contratos para janeiro de 2026 (9,675% para 9,680%), janeiro de 2027 (9,798% para 9,805%) e janeiro de 2029 (10,196% para 10,210%).
Segundo o economista-chefe da Oriz Partners, Marcos de Marchi, o mercado de juros brasileiro está basicamente refletindo o comportamento da curva americana desde meados de novembro. Neste início de ano, é natural que esse comportamento permaneça."Estamos na dependência dos Treasuries, mesmo porque, no Brasil, não tem muitas notícias", afirma.
Marchi diz que os números do payroll reforçaram a perspectiva de uma "desaceleração ordenada" da economia americana. A média móvel trimestral de criação de empregos no país, ele destaca, passou de 180 mil até novembro para 165 mil em dezembro – em desaceleração, mas ainda num ritmo forte.
Para o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, a queda do dólar ante o real e os resultados mais fracos de alguns indicadores de inflação no Brasil ajudaram a moderar o aumento dos juros domésticos hoje.
O IPC-Fipe, que mede a inflação na cidade de São Paulo, desacelerou de 0,43% em novembro para 0,38% em dezembro – bem abaixo das expectativas, entre 0,50% e 0,55%. O índice subiu 3,15% em 2023, a menor taxa desde 2018 (3,02%). Já o IGP-DI avançou 0,64% em novembro, pouco abaixo do consenso do mercado, de 0,65%.
"Nós já tínhamos visto um ajuste pré-payroll nos Treasuries, com a ata do Fed e com o relatório ADP, que fizeram os juros americanos subirem e a nossa curva subir, assim como o IPCA-15 mais forte", diz o economista. "Hoje, eu vejo como um dia em que o IGP e o IPC-Fipe um pouco mais brandos ajudaram os DIs."
A semana termina com ganho de inclinação para a curva, resultado de um aumento de 6 pontos-base na taxa do DI para janeiro de 2025 e de 14 pontos-base no contrato para janeiro de 2029. Com isso, o diferencial entre os juros desses dois papéis passou de 5,6 pontos-base no ajuste do dia 28, última sessão de 2023, para 13,5 pontos-base hoje.