O embate entre nacionalistas e vanguardistas? Ele esteve lá. O nascimento do Departamento de Música da USP? Sim. A fundação da Escola Municipal de Música de São Paulo? Também. Um olhar pela biografia do maestro e professor Olivier Toni associa sua trajetória artística a momentos marcantes da história da música brasileira. Ainda assim, aos 88 anos, ele continua relutante em falar de si mesmo. “Não sou mais do que ninguém. Sou um músico que cresceu honestamente na profissão.”
A conversa com o jornal O Estado de S.Paulo se dá pelo lançamento, que ocorre nesta terça-feira, 21, no Sesc Consolação, a partir das 21 horas, de um disco inteiramente dedicado a suas composições – algumas delas serão apresentadas nesta terça pelo pianista Paulo Álvares e o violinista e maestro Claudio Cruz. Mais do que falar do disco, porém, Toni prefere conversar a respeito de outros temas. O CD, afinal, coroa uma carreira que a todo instante tentou pensar a música dentro de um espírito público. “Na faculdade de filosofia, um professor me perguntou: o que é a música? Isso me fez pensar sobre o fazer musical. Na Filosofia, aprendi coisas que fizeram da minha vida uma luta incansável contra a ideia de poder.”
Toni começou sua vida musical ao piano, graças à influência de sua mãe. Aprendeu fagote e entrou para a orquestra do Teatro Municipal. Mas sua mãe sugeriu a ele que, além da música, estudasse alguma outra coisa. E ele escolheu a Filosofia.
No curso, teve mestres como Florestan Fernandes e Gilles Gaston Granger. “Eles me incentivavam a tocar piano”, lembra. E, ao lado das tardes dedicadas à discussão política, ele se envolveria também na criação de uma orquestra da faculdade. E, dela, surgiria, em meados dos anos 1950, a Orquestra de Câmara de São Paulo.
O grupo trabalhou durante quase três décadas, ao longo das quais acabou introduzindo no cenário paulistano ampla diversidade de repertório. “Lá, além de reger, eu e outros colegas também sentimos a necessidade de ensinar algumas coisas da prática musical aos músicos, muitos deles haviam se formado, afinal, em outras áreas”, lembra Toni. Nessa época, conheceu o compositor Gilberto Mendes, que lhe pediu algumas orientações. O mesmo aconteceria no contato com Willy Corrêa de Oliveira. Nascia assim, o “professor” Toni.
Com o tempo, o “professor” acabaria encontrando o “criador” de grupos. Em 1968, ao cumprimentar o prefeito Faria Lima após um concerto de uma orquestra jovem búlgara, o Toni político falaria mais alto: o senhor saber que não temos uma orquestra jovem aqui? Nascia ali a Sinfônica Jovem Municipal. Anos depois, após uma nova conversa com o prefeito, seria encarregado de montar o projeto de uma escola de música municipal. Da mesma forma, de conversas com o professor Erasmo Mendes, surgiria uma nova ideia: criar, dentro da USP, um departamento de música.
“Eu sempre quis fazer música. E, para isso, era preciso ter colegas ao meu lado. Então, eu me dediquei a criar profissionais e um contexto de trabalho”, diz Toni. No texto do encarte do disco, Willy Corrêa diz que a dedicação com os estudantes impediu a Toni se dedicar mais à composição. “Não porque o impedíssemos (de modo algum), mas porque nós fomos mais importantes para ele de que ele próprio e suas obras”, escreve. O disco, assim, não apenas nos revela um Toni menos conhecido. É de certa forma a retribuição dos músicos a uma vida dedicada a eles. Melhor ainda que venha na forma de música. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.