O novo perfil de estudante da USP tem muito a contribuir para a diversidade dos debates em sala de aula, ainda que traga dificuldades iniciais de aprendizagem por problemas de formação básica. É o que apontam professores ouvidos pela reportagem. “Em minha primeira experiência na sala de aula havia apenas alunos brancos e vindos de escola de elite, como Santa Cruz e Rio Branco”, diz o professor Marcus Orione, do Direito, há 16 anos na instituição.
Hoje, ainda que de maneira tímida, diz ele, isso se diversificou. “Percebo que há um deslocamento do interesse dos estudantes no tipo de pesquisa. Tenho, por exemplo, uma aluna interessada em pesquisar a discriminação racial, tema que não interessava no passado, pois ninguém sofria desse problema. Uma universidade está muito mais próxima do conceito de popular se tiver mais alunos negros e provenientes de escola pública. Os discursos de diversidade passam a fazer parte do cotidiano dos alunos”, diz. “Se hoje um professor fala uma expressão homofóbica ou racista, há logo uma comoção entre os estudantes.”
Professor de Medicina na USP há mais de 30 anos, Paulo Saldiva lembra dos tempos de estudante, no começo da década de 1970, quando, ao contrário de hoje, a escola pública ainda levava boa parte de seus estudantes para a universidade. “Essa concentração de egressos de escolas particulares começou a partir dos anos 1990. Então, na minha época, ainda tinha muito aluno de escola pública. E isso me fez muito bem. Eu era um almofadinha e o convívio com alunos de outras classes sociais me fez evoluir muito”, brinca.
Inclusão
Como naquele tempo, o professor vê essa diversidade com bons olhos. “Não concordo com a ideia de que a qualidade pode cair com a inclusão. Um sujeito que veio de Guaianases e estudou sempre em escola pública, para passar em uma universidade, precisa ser muito bom”, diz Saldiva.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.