Ao considerar que as medidas do governo para reequilibrar as contas públicas abrem espaço ao início de uma distensão monetária, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a discussão sobre corte de juros é legitima e não pode ser política.
"Essa discussão é técnica, não deve ser política. Ela é legitima. Você pode ter dois economistas bem formados, um que acha que é melhor esperar e outro que pensa que pelo andar da carruagem já há espaço para que a política monetária reforce a política fiscal", comentou em entrevista ao empresário Abilio Diniz no programa <i>Caminhos</i>, da <i>CNN Brasil</i>.
Segundo Haddad, a discussão não é mais sobre o que o Banco Central (BC) deve fazer, mas sim "quando" a autoridade monetária começará a cortar os juros. "Dentro da técnica, é possível você discutir", assinalou o ministro da Fazenda, fazendo um paralelo com a Medicina. "Se isso não fosse possível, você jamais ouviria a segunda opinião do médico. Por que você ouve uma (segunda) opinião do médico? Para ouvir uma opinião política? Não, para ouvir uma opinião técnica, que valide a primeira opinião."
Entre as ações tomadas para recompor as finanças do governo federal, Haddad salientou não ter sido fácil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reonerar os combustíveis. Porém, avaliou que a medida foi compreendida pela sociedade. "Ninguém gosta de populismo que vai naufragar depois de dois anos."
Na entrevista, Haddad manifestou também confiança na votação da reforma tributária, para a qual o Congresso, julgou, está pronto. Uma vez encaminhados o arcabouço fiscal e a reforma dos impostos sobre o consumo, o ministro adiantou que o governo deve avançar, a partir do segundo semestre, numa agenda com objetivos de médio e longo prazo que inclui transição energética, na qual o Brasil tem posição privilegiada por sua matriz limpa. Há um conjunto de 100 ações programadas e organizadas em seis eixos para completar a transição ecológica até o fim do mandato, informou.
Para Haddad, o governo está com mais noção de suas possibilidades e do nível de integração que precisa manter com os demais Poderes. Internamente, pontuou, podem haver divergências, arbitradas pelo presidente Lula. Contudo, "no básico" todos do governo convergem para o mesmo lugar, garantiu.
Em debate com Abilio sobre a origem dos problemas da maioria dos países – se por falta de projetos, como defendeu o ministro, ou por falta de gestão, como sustentou o empresário -, Haddad comentou que a máquina pública já foi melhor no Brasil. "Passamos por um desmantelamento da máquina pública, não diria em todos os setores", afirmou o titular da Fazenda, apontando os ministérios de Ciência e Tecnologia, do Meio Ambiente, e da Saúde entre os que mais sofreram nos últimos anos.
"Essas coisas estão sendo recompostas", afirmou. "No que diz respeito à Fazenda, quero dizer que as carreiras de Estado da Fazenda são carreiras de excelência. Você encontra técnicos de excelente qualidade, do assunto que você imaginar, e que agora se sentem, na minha opinião, um pouco mais valorizados e estimulados. Deixou-se de demonizar o serviço público", acrescentou.
<b>Agronegócio</b>
Ao ser questionado sobre os atritos do governo com setores do agronegócio, Haddad disse que sua interação com o setor é indireta, sendo mediada pelo Ministério da Agricultura. "O que a gente cuida, e cuida bem, é do Plano Safra", pontuou.
Apesar dos recordes na produção de grãos – "a agricultura no País está indo bem", defendeu -, ele manifestou preocupação com a queda em algumas culturas importantes, nas quais a produção per capita está caindo. Ainda assim, Haddad frisou que o agronegócio é a atividade onde a produtividade do trabalho mais cresce no Brasil.