Travessia, do baiano João Gabriel, recebeu o troféu de melhor filme no 10º Fest-Aruanda. Considerado “azarão” na disputa, atropelou por fora e derrotou favoritos, em especial Para Minha Amada Morta, de Aly Muritiba, que, no entanto, recebeu os troféus de diretor e roteiro.
Imperou no júri um certo distributivismo, o que é aceitável dada a boa qualidade dos filmes em competição. Nenhum concorrente saiu sem premiação. Além do troféu de melhor filme, Travessia ficou com os de melhor ator (Chico Diaz) e montagem (Lillah Halla e João Gabriel). Através da Sombra recebeu os prêmios de melhor atriz (Virgínia Cavendish) e fotografia (Pedro Farkas). Nise – o Coração da Loucura foi agraciado com o Prêmio do Público e também ganhou os troféus de direção de arte (Daniel Flaksman) e trilha sonora (Jaques Morelenbaum). O documentário Invólucro ficou com o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio da Crítica. Garoto levou a estatueta de melhor som (Uerlem Queiroz).
A curadoria dos filmes optou pela diversidade. Houve preocupação em não privilegiar uma corrente estética (ou temática) sobre outras e manter o equilíbrio entre obras de narrativa mais clássica e outras menos convencionais. Veteranos (como Julio Bressane e Walter Lima Jr.) conviveram com jovens como Caroline Oliveira (Invólucro) e João Gabriel (Travessia). Esse tipo de ecletismo inteligente dá boa dinâmica a um festival, ao contrário do que acontece em mostras muito segmentadas, em geral voltadas para iniciados.
Outro trunfo do 10º Aruanda foi a lista de convidados. Enxuta, porém muito participante, com atores como Lima Duarte, Marco Ricca e Virgínia Cavendish, e diretores como Roberto Berliner e Guilherme Fontes e um escritor como Fernando Morais. A convivência desses convidados com seus colegas e também com a imprensa e o público foi muito frutífera.
Conversou-se muito sobre cinema e outros temas, num tipo de camaradagem há muito abolido por festivais de feitio mais tradicional. Estes tendem a isolar os convidados em segmentos, a pretexto de garantir sua privacidade. Festivais menores fazem do déficit de infraestrutura um pretexto criativo para serem mais informais. E, por isso mesmo, mais produtivos do ponto de vista da troca de ideias.
Essa harmonia rendeu dois encontros que devem ser marcados como pontos históricos deste festival. No primeiro, o filme Chatô – O Rei do Brasil foi discutido ao longo de quatro horas com uma plateia atenta e informada. Provavelmente Chatô não foi, e nem será, debatido com a mesma profundidade em nenhum outro lugar.
Em outro encontro, o classicamente arredio Geraldo Vandré soltou-se ao voltar para sua terra natal e concordou em responder perguntas ao longo de hora e meia, para encanto da plateia. São fatos assim que, somados à qualidade dos filmes concorrentes, dão solidez a um festival. O resto é glamour, que pode ser sedutor no momento, mas não deixa traços. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.