A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), do empresário Benjamin Steinbruch, já está em conversas com bancos para negociar a venda de parte de seus ativos – um movimento necessário para reduzir o pesado endividamento do grupo. Com atuação em cinco áreas (siderurgia, mineração, cimento, logística e energia), a ideia é se desfazer de negócios considerados não estratégicos, mas não está descartada a entrada de sócios em divisões importantes, como mineração, por exemplo, e venda de ativos de siderurgia da companhia no exterior, afirmou uma fonte familiarizada com o assunto.
A dívida bruta da CSN atingiu R$ 32 bilhões no primeiro trimestre deste ano e a tendência é aumentar, uma vez que os preços do minério recuam drasticamente desde o ano passado – na semana passada registrou a maior baixa dos últimos 10 anos, US$ 44,50 por tonelada, provocando estragos também em grandes mineradoras e siderúrgicas globais. Além disso, a CSN é prejudicada pela baixa demanda por aço no mercado interno, sobretudo das indústrias automobilística e de linha branca.
A venda da participação da CSN na Usiminas é considerada líquida e certa, já que o grupo tem de cumprir uma determinação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) de se desfazer de suas ações na siderúrgica. Há ainda outros negócios não estratégicos que devem compor a cesta, como energia – a empresa tem três usinas -, logística, como o Tecon Sepetiba (terminal de contêineres), e venda de parte da participação da ferrovia MRS, na qual a CSN detém 33,2% -, além de imóveis, avaliados em cerca de R$ 1 bilhão, e unidades de embalagens (Metalic e Prada).
As conversas com bancos já começaram, mas ainda não há mandatos fechados, disse uma fonte familiarizada com o assunto. O jornal “O Estado de S. Paulo” conversou com dois bancos – um deles um dos maiores privados do Brasil e outro estrangeiro -, que já começaram a se movimentar em busca de saídas para apresentar a Steinbruch.
Vender não é um dos verbos preferidos do empresário, conhecido no mercado por ser um negociador nato, insistente e que compra brigas para defender seus negócios. “Hoje eu diria que a situação da CSN é vender o anel para não perder os dedos. Se esperarem mais um pouco, vão ter de cortar um dedo para não perder a mão”, disse um executivo de um grande banco estrangeiro, que está analisando estratégias para apresentar à companhia.
“Não está descartada a entrada de um sócio no segmento de mineração”, disse o executivo do banco. Há empresas asiáticas interessadas em negociar parcerias. “O ideal seria reduzir a dívida do grupo em pelo menos um terço, seja por venda de ativos e/ou entrada de parceiros”, disse essa fonte. Outro executivo, de um dos maiores bancos de varejo do Brasil, afirmou que já há interessados em ativos da CSN. “Mas ainda não está definido o que será vendido”, disse. Procurada, a CSN não comenta o assunto.
Noiva
No caso da participação da CSN na Usiminas, Benjamin Steinbruch está sendo cortejado e tem as cartas na mão. É que a fatia de 14,1% de Steinbruch interessa tanto à japonesa Nippon Steel, que tem uma participação de cerca de 30% na Usiminas, quanto ao grupo Ternium, subsidiária do grupo ítalo-argentino Techint, com 38%. Os dois principais acionistas do bloco controlador da Usiminas estão em um litígio desde setembro do ano passado e disputam cada naco de acionistas interessados em vender ações da siderúrgica. “Agora a CSN é a noiva bonita. Se um deles conseguir 50% mais uma ação e o acordo de acionistas for revisto (ele é válido até 2031 e prevê controle compartilhado), vira o controlador”, disse uma fonte de mercado.
Cálculos de uma fonte do setor mostram que só com a venda das ações da Usiminas, a CSN levantaria cerca de R$ 1,5 bilhão. As centrais de energia somariam R$ 1 bilhão, o Tecon mais R$ 1 bilhão e as fábricas de cimento, outros R$ 500 milhões, além dos imóveis (R$ 1 bilhão). Com esse pacote, já seriam R$ 5 bilhões. “A empresa precisa levantar muito mais do que isso.”
As áreas de siderurgia, mineração e cimento são consideradas estratégicas para o grupo, mas não há restrição de possíveis parcerias. Se for considerada a entrada de um sócio em mineração, essa operação deverá demorar mais um pouco. É que a CSN e sua atual sócia, a japonesa Namisa, estão reestruturando o negócio, que será concluído até o fim do ano.
As duas empresas discutem a combinação do negócio, batizado de Congonhas Minérios. Essa reestruturação envolve a mina Casa de Pedra, menina dos olhos da CSN, e os ativos da Namisa, dos quais a CSN detém 60%. Ao fim dessa operação, a CSN poderá deter 89% dessa joint venture e a Namisa 11%, segundo fontes. Ainda fazem parte da joint venture uma fatia da MRS e a Tecar (terminal de carvão), da CSN, no porto de Itaguaí (RJ). A Namisa reúne os grupos Itochu Corporation, JFE Steel Corporation, Posco, Kobe Steel, Nisshin Steel e China Steel Corporation.
A CSN tenta há alguns anos acordo para a fusão dos ativos, alegando que a operação traria ganhos de escala e de produtividade, mas não havia consenso entre os sócios. O mercado acompanha atentamente o desfecho.
Balanço
A companhia registrou queda de 7% na receita em 2014, para R$ 16,1 bilhões, e prejuízo de R$ 105,2 milhões. No primeiro trimestre, as vendas caíram 8,3%, para R$ 4 bilhões. No início de julho, a agência de classificação de riscos Standard & Poors (S&P) revisou a perspectiva de nota de crédito BB em escala global da CSN, de estável para negativa. Em escala nacional foi rebaixado de AA para A+, com perspectiva negativa. E afirmou que se a CSN não reduzir sua dívida, deverá ter sua nota rebaixada nos próximos seis meses.
Agora está nas mãos da companhia adotar a melhor estratégia para melhorar seu nível de alavancagem, seja com alongamento de parte da dívida, que está em curso, e venda de ativos, para enfrentar um período de ciclo de baixa do minério e demanda por aço, que deve continuar pressionando o setor nos próximos meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.