Os votos divididos da decisão desta quarta-feira, 25, do Comitê de Política Monetária (Copom) – seis pela manutenção da Selic e dois pela elevação – foram surpreendentes. O comentário foi feito pelo economista sênior do banco Haitong, Flávio Serrano. Segundo ele, a divisão entre os diretores eleva as chances de o Banco Central subir a Selic no próximo encontro, em janeiro.
“A decisão pegou a gente de surpresa. Esperávamos a manutenção da Selic em 14,25% hoje, como ocorreu, e não acreditávamos que a alta de juros poderia ocorrer mais à frente. Agora, aumentou muito a chance de elevação já no começo do próximo ano”, avaliou.
Para Serrano, a divisão de votos na reunião de hoje foi motivada pela piora das expectativas de inflação. “No relatório Focus, a inflação para 2016 vem piorando. Ela já passa de 6,50%”, destacou. De fato, no documento divulgado na segunda-feira, a mediana do mercado para o IPCA de 2016 passou de 6,50% para 6,64%.
Serrano chamou a atenção ainda para o fato de, no comunicado de hoje, o Copom ter excluído o trecho que citava a manutenção da Selic no atual patamar “por um período prolongado”. Isso reforça a leitura de que o BC pode elevar a Selic mais à frente.
O impacto tende a ser percebido no mercado de juros futuros nesta quinta-feira, 26. “Na sessão de hoje, tínhamos precificado zero de chances de alta da Selic agora e 150 pontos-base para as próximas três reuniões. Mas a probabilidade para a próxima reunião tende a aumentar”, comentou Serrano.
Segundo ele, as taxas dos contratos futuros de juros com prazos mais curtos (até janeiro 2017) devem subir. Na ponta mais longa da curva a termo, o movimento esperado seria de baixa – mas isso dependerá do cenário macro como um todo, bastante contaminado pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e influenciado também pelo exterior. (Fabrício de Castro – [email protected])
Opus
A decisão de dois diretores do Banco Central de defenderem a alta da Selic de 0,50 ponto porcentual na reunião do Copom parece sinalizar que há sérios riscos de as expectativas ficarem desancoradas diante do quadro inflacionário, comentou ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, José Márcio Camargo, professor da PUC-RJ e economista-chefe da Opus Gestão de Recursos. O Copom manteve os juros em 14,25% ao ano, por seis votos, mas dois foram favoráveis à elevação para 14,75%.
“O mercado entenderá que o Banco Central colocou um viés de alta para os juros para a próxima reunião de janeiro”, destacou Camargo, que avalia não estar clara qual será a posição do Copom no primeiro encontro de 2016. “Os dois diretores que votaram a favor da elevação da Selic precisarão convencer os outros dirigentes do BC sobre suas avaliações. O BC está certo em ter foco exclusivo no combate à inflação, apesar da forte retração do nível de atividade.”
Tendências Consultoria
Na avaliação da economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada Alessandra Ribeiro, os dois votos favoráveis à elevação da Selic foram a grande novidade da reunião deste mês do Copom, mas ainda assim é cedo para apostar em um novo movimento de alta dos juros no País.
“Aquele termo do BC vigilante pode se traduzir em alta dos juros, mas ainda é cedo para falar que isso ocorrerá na próxima reunião, em janeiro. Porém, as evidências ficam mais fortes”, disse.
Ainda assim, a economista mantém a projeção de estabilidade da Selic durante boa parte do ano de 2016, mas reconhece que os riscos para suas perspectivas aumentaram. “A trajetória de juros vai depender da ancoragem das expectativas inflacionárias para 2017”, complementou.