Após flertar com o rompimento do piso de R$ 5,00 no início da tarde desta quinta-feira, o dólar à vista ganhou força no mercado doméstico nas duas últimas horas de pregão, em meio a uma piora do humor no exterior. Declarações cautelosas de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), com alertas para as leituras recentes de inflação, levaram a uma perda de fôlego dos ativos de risco, na véspera da divulgação do relatório de emprego (payroll) nos EUA em março.
Já em terreno positivo, a divisa acelerou os ganhos e renovou sucessivas máximas nos últimos 10 minutos da sessão, em resposta a um aparente movimento de aversão ao risco. As taxas dos Treasuries de 10 anos, que vinham respondendo ao vaivém das expectativas para os próximos passos do Fed, recuaram com temores geopolíticos. Circularam notícias de que as embaixadas israelenses em todo o mundo estão em alerta por conta do aumento de ameaças de ataques iranianos contra diplomatas de Israel.
Com máxima a R$ 5,0537, o dólar à vista encerrou cotado a R$ 5,0507, em alta de 0,20%. Nos quatro primeiros pregões de abril, a moeda acumula valorização de 0,70%, após ter encerrado o primeiro trimestre com ganhos de 3,34%.
Mais cedo, indicadores da economia americana, em especial a alta do número de pedidos de auxílio-desemprego, aliviaram parte dos temores de que o Federal Reserve postergue o início do corte de juros para além de junho – o que deu fôlego ao real e a outras divisas emergentes. A maré virou a tarde com discursos de dirigentes do BC americano.
A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, afirmou que o processo de desinflação deve se dar em ritmo mais lento daqui para frente. Já presidente da regional de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que os dados recentes de preços foram preocupantes e que, caso a inflação se mantenha nos níveis atuais, vai se questionar se faz sentido cortar os juros neste ano.
"O resultado dos pedidos de auxílio-desemprego trouxe esperança de que o payroll pudesse vir abaixo do esperado e gerou otimismo nos mercados. Mas o dólar ganhou força com os representantes do BC norte-americano reafirmando a preocupação com a inflação", afirma head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa.
À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial na semana passada (entre 25 e 28 de março) foi negativo em US$ US$ 540 milhões, em razão de saídas líquidas de US$ US$ 3,489 bilhões pelo canal financeiro. Em março, o fluxo total foi positivo em US$ 1,752 bilhão, com as entradas líquidas de US$ 7,292 bilhões via comércio exterior superando as saídas líquidas de US$ 5,540 bilhões pela conta financeira.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou que a balança comercial registrou superávit de US$ 7,483 bilhões em março, acima da mediana de Projeções Broadcast (US$ 6,950 bilhões). No ano, o saldo comercial é positivo em US$ 19,07 bilhões.
Após o resultado do primeiro trimestre, o ministério revisou a previsão de superávit comercial de 2024 para baixo de US$ 94,4 bilhões para US$ 73,5 bilhões. Analistas ouvidos pelo Broadcast continuam a prever superávit primário forte neste ano, o que contribui para mitigar eventuais apostas mais firmes contra o real.
Operadores especulam se o avanço do dólar para o nível de R$ 5,05 pode levar a uma nova intervenção do Banco Central. Na terça-feira, o BC vendeu lote adicional de US$ 1 bilhão em swap cambial com início em 15 de abril. De acordo com o BC, a medida foi necessária para atender a demanda por dólar futuro em razão dos efeitos de resgate de NTN-A3.
"Com a venda de swap extra, o BC só lembrou ao mercado que está atento para dar mais liquidez. Se continuasse a atuar, iria secar gelo . A intenção parece ter sido estancar a onda compradora, o que aparentemente conseguiu", diz o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.