Após uma manhã de troca de sinais, em que chegou a romper o piso de R$ 4,85, o dólar à vista se firmou em alta ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quarta-feira, 19, cotado a R$ 4,8730, avanço de 0,35%. Como nas sessões anteriores, a amplitude dos movimentos foi reduzida, com oscilação de pouco mais de três centavos entre mínima (R$ 4,8420) e máxima (R$ 4,8756). O escorregão do real à tarde se deu em meio a um ambiente externo mais negativo e ao aprofundamento das perdas do Ibovespa. As cotações do petróleo, que avançaram na primeira etapa de negócios, passaram a recuar e as taxas dos Treasuries renovaram máximas.
Operadores observaram que houve pressão compradora no segmento futuro, com recomposição de posições defensivas e realização de lucros diante de um ambiente de cautela na véspera das decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos. Com liquidez reduzida, a formação da taxa de câmbio ficou muito sujeita ao impacto de operações pontuais. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para outubro movimentou menos de US$ 10 bilhões.
"Houve uma pressão sobre o dólar no fim do dia, mas sem um motivo específico. O sentimento é de bastante cautela com a expectativa pelas decisões de política monetária amanhã. O mercado tem dúvidas sobre o tom do Federal Reserve, embora a maioria das apostas seja de manutenção da taxa", afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Lá fora, o dólar se fortaleceu em relação ao euro e ao iene e apresentou comportamento misto na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities. As cotações do petróleo fecharam em leve baixa, com o contrato do tipo Brent para novembro em queda de 0,10%, a US$ 94,34 o barril.
É praticamente unânime a aposta de que o Federal Reserve vai anunciar amanhã à tarde manutenção da taxa básica americana na faixa entre 5,25 e 5,50%. As dúvidas giram em torno do tom do comunicado e das projeções econômicas, em especial de inflação e nível da taxa de juros, dos integrantes do BC americano no chamado gráfico de pontos. Como é de praxe, o presidente do Fed, Jerome Powell, concederá entrevista coletiva após a decisão.
"A alta dos Treasuries lá fora com o mercado em compasso de espera pelo Fomc o comitê de política monetária do Banco Central americano acabou dando força ao dólar", afirma a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "Embora a expectativa seja de manutenção, pode vir uma sinalização mais dura, sugerindo elevação residual dos juros e manutenção da taxa em níveis elevados por período prolongado".
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, observa que o movimento vendedor da manhã perdeu força ao longo da tarde à medida que o quadro externo se deteriorava. Parte da queda do dólar nos últimos pregões tem sido atribuída, segundo Galhardo, ao fato de indicadores domésticos terem vindo melhores do que o esperado. "Existe essa narrativa de que as coisas estão melhorando que dá suporte a grandes grupos vendedores de dólar. Por enquanto, a taxa de câmbio tem respeitado o intervalo entre R$ 4,80 e R$ 5,00", afirma o gerente da Treviso.
Divulgado pela manhã, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) subiu 0,44% em julho em relação a junho. O aumento foi mais intenso do que o apontado na mediana das estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, de 0,35%. As previsões iam de queda de 0,10% a alta de 1,10%.
Parte de analistas argumenta que os indicadores econômicos recentes mostram atividade aquecida e justificariam uma postura mais cautelosa do Comitê de Política Monetária (Copom) no processo de redução da taxa de juros. É dado como certo que o comitê vai anunciar amanhã corte da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12,75% ao ano. Há quem aposta que o BC pode acelerar o passo para 0,75 ponto nas próximas reuniões.