Com muita volatilidade e trocas de sinais ao longo do dia, o dólar à vista acabou encerrando a sessão desta sexta-feira, 29, em alta, alinhando ao sinal predominante da moeda norte-americana no exterior. O real, contudo, apresentou perdas bem mais amenas que seus pares, como o rand sul-africano e o peso mexicano – movimento atribuído por operadores a fluxos pontuais de recursos e ajustes na rolagem de contratos futuros.
Pela manhã e início da tarde, quando se deu a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro, o dólar chegou a correr até a máxima de R$ 5,6629 (+0,67%), refletindo preocupações fiscais, apreensão com a paralisação dos caminhoneiros no dia 1º de novembro e desconforto provocado pela declaração do presidente Jair Bolsonaro na quinta-feira de que a Petrobras não devia dar "lucro muito alto".
Já a mínima, de R$ 5,5981 (-0,48%), veio ao longo da tarde, na esteira da fala novo secretário do Tesouro, Paulo Valle, de que pode atuar no mercado em conjunto com o Banco Central. Experiente funcionário de carreira do Tesouro, Valle – em apresentação de detalhes da PEC dos Precatórios – sinalizou que, além retirar oferta de títulos prefixados, o órgão pode intervir com a recompra de títulos.
Mas o alívio na taxa de câmbio foi momentâneo. Com a aceleração da queda do Ibovespa e o ambiente externo ruim para divisas emergentes, o dólar acabou recuperando fôlego e voltou não apenas a ser negociado acima de R$ 5,60 como tocou na casa de R$ 5,65. No fim do pregão, era cotado a R$ 5,6461, em alta de 0,37%. Com o avanço desta sexta-feira, a moeda fechou a semana com variação de 0,33% e acumulou valorização de 3,67% em outubro, após ter subido 5,30% em setembro.
O detalhamento da PEC pelos novos integrantes da equipe econômica não chegou a ter influência relevante na formação da taxa de câmbio, segundo profissionais ouvidos pelo Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado. Os temores giram em torno de possíveis alterações no texto, com inclusão de novos furos no teto para acomodar despesas, e da própria chance de aprovação da proposta, que, após eventual chancela da Câmara, ainda tem de ir ao Senado, casa refratária a Bolsonaro.
Segundo os cálculos do Ministério da Economia, o impacto total da PEC dos Precatórios é de R$ 91,6 bilhões para 2022 – acima do estimado anteriormente (R$ 83,6 bilhões). O limite do pagamento de precatórios traria espaço de R$ 44,2 bilhões, ao passo que a mudança dos parâmetros de inflação para correção do teto liberaria R$ 47 bilhões. Além dos efeitos em 2022, a alteração do teto abriria espaço de R$ 15 bilhões ainda neste ano, que seriam para despesas com vacinação contra covid-10 ou relacionadas "a ações emergenciais e temporária de caráter socioeconômico".
O novo secretário especial de Tesouro e Orçamento do Ministério da Economia, Esteves Colnago, rechaçou qualquer plano para pôr o Auxílio Brasil de R$ 400 que não seja a aprovação da PEC. Já Valle disse as expectativas devem voltar a ficar ancoradas quando for definida a versão final da proposta. "Essa volatilidade do mercado é devida a incertezas criadas pelo processo de votação da PEC", afirmou.
O diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, não vê espaço para um alívio na taxa de câmbio no curto prazo e prevê nova onda de "estresse" na semana que vem com as negociações para votação da PEC dos Precatórios e a divulgação da ata do Copom, além das repercussões da paralisação dos caminhoneiros. "Hoje, o mercado foi um pouco atípico pela formação da Ptax. Mas a pressão continua forte. Não sei se vai haver quórum para votação da PEC e o texto pode ser modificado. Mas mesmo que seja aprovada na Câmara, a PEC não deve passar no Senado", avalia Gomes da Silva, ressaltando que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), é postulante ao Palácio do Planalto. "Esse nível entre R$ 5,55 e R$ 5,70 é o novo <i>range</i> de flutuação do dólar. Mas não vejo recuo na semana que vem".
Na avaliação de Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, o desempenho do real foi surpreendente nesta sexta e pode ser atribuído a fluxos pontuais de entrada e a movimentos de rolagem de posições no mercado futuro. "Foi um dia atípico, com nossa moeda bem melhor que o peso mexicano neste dia. Mas o ambiente aqui dentro continua muito complicado", diz Iha. "Estamos dependentes da aprovação da PEC. Mesmo assim, o mercado deve seguir nervoso. A partir do momento que se fura o teto, podem surgir novas demandas por gastos."
No exterior, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes – operou em forte alta, a maior parte do tempo acima dos 94,100 pontos, na esteira de dados positivos da economia dos EUA, que reforçam o cenário de retirada de estímulos por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central daquele país). A moeda americana também subiu em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, com destaque para o peso mexicano (+1,03%), o rand sul-africano (0,91%) e o rublo (+0,85%).
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