Depois de ensaiar um leve recuo no início da tarde, o dólar ganhou força nas duas últimas horas do pregão e encerrou a sessão desta quinta-feira, 12, em alta firme, na casa de R$ 5,25. A degringolada no mercado de câmbio teve como gatilho o adiamento da votação da reforma do Imposto de Renda na Câmara dos Deputados e foi acentuada, já na reta final das negociações, pela piora do desempenho das divisas emergentes no exterior e por declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro.
Segundo operadores, a incerteza nos campos político e fiscal permanece como o principal sustentáculo do dólar no mercado doméstico. Às dúvidas em torno de temas como reforma do Imposto de Renda, PEC dos Precatórios e magnitude do reajuste Bolsa Família soma-se com a postura belicosa de Bolsonaro, que continua a pôr em dúvida a legitimidade do processo eleitoral e a criticar outros Poderes.
Em cerimônia de promoção de oficiais-generais, disse ter certeza de possuir o apoio integral das Forças Armadas, a quem, segundo o presidente, cabe o papel de um inexistente "poder moderador". Bolsonaro voltou a dizer que estão nas mãos das Forças Armadas a garantia da liberdade e da democracia no país.
Após a fala de Bolsonaro, o dólar atingiu a máxima do dia, a R$ 5,2579. Em seguida, a moeda desacelerou levemente, mas sem perder o nível de R$ 5,25, para fechar a R$ 5,2564, alta de 0,67%.
O giro com o contrato futuro para setembro, termômetro do apetite por negócios, foi um pouco menor que em sessões anteriores, ficando na casa de US$ 12 bilhões.
Nem mesmo o tom duro do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que prometeu, em live nesta quinta à tarde, fazer "tudo o que for necessário" para controlar a inflação (leia-se: elevar a taxa Selic até onde for preciso) anima investidores a abandonar posições defensivas. Em tese, a taxa Selic mais alta traria mais recursos ao país, ao aumentar os ganhos de arbitragem com o diferencial de juros interno e exterior – ainda mais porque o Banco Central brasileiro embarcou em um ciclo de aperto monetário mais forte que o de outros países emergentes.
"O mercado está em uma posição bastante defensiva com o Brasil. A maior parte acredita que a taxa de câmbio está fora do lugar. Deveria ser R$ 4,80, R$ 4,90. Mas nem mesmo com a Selic mais alta a gente vê uma apreciação da moeda, como se poderia esperar", afirma o gerente da mesa de derivativos financeiros da H.Commcor, Cleber Alessie, acrescentando que o adiamento da votação da reforma do Imposto de Renda deu certo fôlego ao dólar à tarde.
Diante de críticas ao texto, pedidos de líderes partidários e pressões de Estados e municípios, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, decidiu remarcar a votação da reforma do IR para a próxima terça-feira, 17. O relatório da reforma, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), disse que vai acatar sugestões das bancada partidárias e protocolar um novo texto. Teme-se que a reforma resulte em perda de arrecadação, exacerbando o problema das contas públicas, e desencadeie remessas prematuras de recursos para o exterior, por conta da taxação de dividendos.
Para Alessie, da H.Commcor, a reforma do IR está "muito truncada" e acaba elevando o nível de incerteza sobre a política fiscal, já grande por conta de temores com "ofensiva populista" de Bolsonaro, que quer aumentar gastos sociais. Sem fatos concretos e relevantes que aumentem a visibilidade no campo político e fiscal, é "difícil o mercado ousar" a apostar nos ativos locais, avalia. "Não está no horizonte a versão dessa postura populista e de crítica às eleições. As única notícias positivas que podem vir são um alívio na inflação e números fortes de arrecadação", afirma.