Após superar os R$ 5,20 pela manhã, em meio ao impacto da divulgação do relatório de emprego nos Estados Unidos, o dólar à vista experimentou uma acomodação ao longo da tarde desta sexta-feira, 6. Com melhora do apetite ao risco lá fora, na esteira de releitura de números do payroll, a moeda encerrou a sessão desta sexta-feira em baixa de 0,14%, cotada a R$ 5,1622.
Apesar do refresco desta sexta, a divisa termina a semana, que corresponde aos cinco primeiros pregões de outubro, com valorização de 2,69%, em linha com o fortalecimento global da moeda norte-americana. Foi a maior alta semanal desde a primeira semana de agosto (+3,05%).
Mais uma vez, a formação da taxa de câmbio nesta sexta foi ditada pelo exterior. Pela manhã, o payroll mostrou criação de 336 mil vagas nos EUA em setembro, bem acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (175 mil). Foi a senha para mais uma onda avanço do dólar e das taxas dos Treasuries.
Com o mercado de trabalho norte-americano apertado, ganhou força a leitura de eventual alta adicional da taxa básica pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) neste ano e, sobretudo, a visão de juros mais elevados por período prolongado.
Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes – esboçou atingir os 107,000 pontos, ao registrar máxima aos 106,874 pontos. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities mergulharam. Por aqui, o dólar à vista até 5,2207, máxima da sessão, com zeragem de posições vendidas no mercado futuro.
Já no fim da manhã, a maré começou a virar. As bolsas em Nova York passaram a subir e o dólar trocou de sinal em relação ao euro e às moedas emergentes. Esse movimento se acentuou ao longo da tarde, com reflexos no mercado local, levando o dólar a tocar mínima R$ 5,1467.
Operadores atribuíram o alívio a ajustes técnicos, dado que os ativos de risco já se depreciaram bastante ao longo da semana. Outro ponto mencionado foi a desaceleração do ritmo de alta taxa da T-note de 10 anos, que, após atingir 4,859% pela manhã, passou a operar abaixo de 4,80%, com investidores digerindo o payroll e dando mais ênfase à desaceleração no crescimento dos salário a estabilidade da taxa de desemprego.
"O dia foi bem volátil, com uma digestão ambígua dos dados do relatório de emprego dos EUA. Houve um choque inicial com o número em si, mas que foi diminuindo ao longo da tarde, com uma leitura mais benigna do payroll", afirma analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, acrescentando que investidores passaram a dar mais relevância a dado de salário e taxa de desemprego. "Já estava no preço que o terceiro trimestre seria forte nos EUA. A expectativa é que haja uma desaceleração marginal no quarto trimestre em nível suficiente para levar ao fim do ciclo de aperto monetário e à descompressão da curva de juros americana."
Apesar do refresco ao longo da tarde, tanto o real quanto seus principais pares latino-americanos apresentam baixas pesadas neste início de outubro, devolvendo parte dos ganhos acumulados no ano. No fim da tarde, as perdas semanais eram puxadas pelo peso colombiano (-6,00%), que ainda avança cerca de 10% ante o dólar em 2023, seguido pelo peso mexicano (-4,38%).
Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o tombo dos ativos de risco nos últimos tempos representa uma correção "de um excesso de otimismo" que prevaleceu no mercado ao longo do primeiro semestre deste ano. Havia a perspectiva de que seria possível um processo de desinflação com preservação do crescimento econômico e sem necessidade de mais aperto monetário.
"Os BCs de EUA e Europa estão dizendo que vão precisar subir mais os juros ou manter as taxas elevadas por mais tempo para controlar a inflação, e o mercado está se dando conta de que a atividade econômica vai desacelerar", afirma Padovani, que chama a atenção também para os problemas na China. "Existe a leitura de que a desaceleração chinesa é mais duradoura, é o fim de um ciclo mais forte de crescimento. Com Europa, Estados Unidos e China crescendo menos, o mundo cresce menos e o risco aumenta em relação a mercados emergentes."
Padovani trabalha com perspectiva de dólar forte no mundo, dado que a economia dos EUA ainda vai se sobressair em relação a de outros países desenvolvidos, e taxa de câmbio de R$ 5,30 no fim do ano. Ele observa que, além do quadro externo, o real perde força com uma diminuição da atratividade do "carry trade", já que o BC vai reduzir a taxa Selic, e a questão fiscal "ainda não resolvida", o que aumenta o prêmio de risco.