O dólar encerrou a sessão desta segunda-feira, 17, em queda moderada no mercado doméstico de câmbio, em sintonia com o sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. O dia foi marcado por recuperação dos ativos de risco lá fora, na esteira de balanços positivos de grandes bancos nos Estados Unidos e do recuo do governo do Reino Unido do pacote de cortes de impostos, o que aliviou a pressão sobre os mercados de dívida e a libra esterlina.
A corrida presidencial, que teve um capítulo importante no domingo, 16, com o primeiro debate do segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mantém um pano de fundo de cautela com o real, embora não tenha tido nesta segunda papel relevante na formação da taxa de câmbio, segundo operadores. Isso apesar do mau humor com a possibilidade de mudança na política de preços da Petrobras, sobretudo em caso de vitória do petista.
Após acumular alta de 2,11% na semana passada, o dólar iniciou o dia em baixa firme e desceu até a mínima de R$ R$ 5,2541 (-1,29%) ainda pela manhã, em meio a relatos de entrada de fluxo (de estrangeiros e exportadores) e à redução de posições defensivas no mercado futuro. Com moderação das perdas ao longo da tarde e renovação de máxima nos últimos minutos de negócios (R$ 5,3038), a divisa acabou encerrando o pregão em baixa de 0,37%, cotada a R$ 5,3028. Em outubro, o dólar agora apresenta perda de 1,70%.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente uma cesta de seis divisas fortes – caiu mais de 1%, chegando a romper o piso de 112,000 pontos na mínima (111,922) pontos. Euro subiu mais de 1% e a libra chegou, nos melhores momentos, a apresentar ganhos de mais de 2% em relação à moeda americana. No Parlamento, o novo ministro de Finanças do Reino Unido, Jeremy Hunt, anunciou nesta segunda que o governo britânico vai reverter quase todas as propostas de cortes de impostos anunciadas em 23 de setembro. Os planos fiscais da primeira-ministra Liz Truss haviam provocado mergulho da libra e disparada das taxas dos gilts, levando a uma intervenção do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), encerrada na sexta-feira, 14.
A reação de euro e libra nesta segunda-feira pode ser vista como uma correção do exagero das perdas recentes. A perspectiva é de um dólar ainda forte em relação ao seus pares, tanto pela deterioração das expectativas para a zona do euro, às voltas com os efeitos da guerra na Ucrânia, quanto pela perspectiva de aperto monetário mais forte nos Estados Unidos, após leitura ruim da inflação ao consumidor em setembro e falas duras de dirigentes do Federal Reserve na semana passada.
O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, vê um mundo marcado por múltiplos fatores de risco que podem atingir a moeda brasileira. Na semana passada, o foco esteve na disparada das taxas de juros dos gilts e nas dúvidas sobre a saúde de fundos de pensão no Reino Unido. Outros pontos relevantes são a crise de energia na Europa, que acelera a inflação e deprime o crescimento na zona do euro, e eventuais medidas que possam emergir do Congresso do Partido Comunista na China. Há muitas dúvidas sobre o tamanho do aperto monetário nos Estados Unidos e seus efeitos sobre a atividade econômica.
"Temos incertezas de todos os lados e cada hora o mercado coloca peso maior em uma questão. O real era até para ter um desempenho melhor hoje quando se olha o comportamento de outros emergentes", afirma Weigt, que ainda vê um prêmio de risco associado à corrida presidencial refletido na moeda brasileira. "Hoje a aposta majoritária é Lula vencer a eleição. Ele já disse que não vai divulgar o nome do ministro da Fazenda, mas se divulgasse um nome bom, o dólar cairia. Tem espaço para um câmbio um pouco mais baixo."