Após cinco pregões consecutivos de alta, período em que acumulou valorização de 5,21%, o dólar à vista recuou na sessão desta quarta-feira, 17. O enfraquecimento global da moeda americana e a queda dos Treasuries, em dia de agenda esvaziada no exterior, abriu espaço para um movimento na realização de lucros no mercado local. Houve também relatos de internalização de recursos por parte de exportadores para aproveitar as cotações mais elevadas.
Tirando altas pontuais e bem limitadas na abertura dos negócios e no início da tarde, o dólar à vista operou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,2198 por volta das 15h45, a divisa encerrou o pregão em queda de 0,47%, cotada a R$ 5,2439 – ainda nos maiores níveis desde março de 2023. Apesar do refresco hoje, o dólar acumula valorização de 4,56% em abril.
Uma vez mais, houve giro forte no mercado de dólar futuro, com o contrato para maio movimentando mais de US$ 18 bilhões. Ontem, os investidores estrangeiros ampliaram ainda mais as posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contrato, cupom cambial e swap), que atingiram o pico histórico US$ 70,3 bilhões, segundo dados da B3. Já os fundos locais mantêm posições vendidas de US$ 8,5 bilhões.
"Hoje é um dia de ressaca, sem agenda relevante. A moeda brasileira se valoriza, em uma correção que era amplamente esperada após a alta muito forte do dólar na segunda e na terça-feira", afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, para quem os fatores que levaram ao estresse no mercado de câmbio nos últimos dias ainda não se dissiparam.
Galhardo lembra a fala de ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, chancelando a expectativa de cortes de juros apenas no segundo semestre e de forma parcimoniosa, após dados fortes de varejo nos EUA. As tensões geopolíticas seguem no radar, embora Israel não tenha até o momento retaliado o Irã pelos ataques a solo israelense no fim de semana.
"Os elementos principais que levaram à depreciação do real foram externos. O dólar subiu também contra moedas fortes. O real já é geralmente uma moeda mais sensível, mas acabou ficando mais volátil com a divulgação da mudança da meta fiscal de 2025", diz Galhardo, em referência ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO), apresentado pelo governo na última segunda-feira.
As atenções se voltaram ao longo da tarde à participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento da XP Investimentos, em Washington. Em meio a especulações de que o BC poderia intervir novamente no câmbio para amenizar o movimento de depreciação do real nos últimos dois dias, Campos Neto afirmou que a autarquia não reage a movimentos de reprecificação do prêmio de risco brasileiro com intervenções no mercado cambial.
Campos Neto também passou um recado mais duro em relação à política monetária, abrindo espaço para que a curva de juros passasse a espelhar desaceleração do ritmo de corte da Selic de 0,50 ponto para 0,25 ponto em maio. Ele disse que o BC "não tem medo de fazer o necessário" para fazer a inflação à meta e que já tentou "mostrar isso ao mercado".
No que foi interpretado como uma sinalização de que o BC pode não seguir o forward guidance de corte da taxa Selic em 0,50 ponto na "próxima reunião", Campos Neto afirmou que, dentro de vários cenários, pode haver um quadro de aumento de incerteza e estresse global que levaria o BC a alterar seu cenário-base.
Para Galhardo, da Remessa Online, a perspectiva de que o BC mire em uma taxa Selic terminal mais perto de 10% pode mitigar pressões mais fortes sobre a moeda brasileira. "Essa é a percepção que fica com a fala do Campos Neto. Isso garante um juro real ainda expressivo e impede altas mais fortes do dólar", dia Galhardo, que, por ora, projeta Selic termina em 9,50%, mas com viés para 9,75%. "Vejo o câmbio numa faixa entre R$ 5,00 R$ 5,15, trabalhando mais perto do limite superior da banda em abril e com queda gradual em maio e junho. Vamos encerrar o primeiro semestre com dólar orbitando R$ 5,00".