Estadão

Dólar cai 0,56% em dia de ajustes, mas cautela com transição segue no radar

A instabilidade deu o tom aos negócios no mercado doméstico de câmbio na sessão desta terça-feira, 8. Com troca de sinais, sobretudo pela manhã, e oscilação de mais de 11 centavos entre a máxima (R$ 5,2484) e a mínima (R$ 5,1310), o dólar à vista encerrou o pregão cotado a R$ 5,1440, em queda de 0,56%, alinhado ao sinal predominante de baixa da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes.

As cotações foram influenciadas tanto pelo vaivém do apetite ao risco no exterior quanto pelas notícias relacionadas à transição do governo, em especial os rumores sobre os gastos que podem ser incluídos na chamada PEC da Transição. Operadores afirmam que, após a disparada do dólar ontem (2,19%), havia espaço para realização de lucros e ajustes para aparar excessos, a despeito das incertezas no front doméstico.

No fim da tarde, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), anunciou nomes da equipe de transição, que terá como coordenador técnico o ex-ministro Aloizio Mercadante. Como ventilado ontem, os economistas André Lara Resende e Persio Arida, pais do Plano Real, vão integrar o grupo da economia, que terá também Guilherme Mello (que assessorou Lula na campanha) e o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa (governo Dilma Rousseff), de visão mais heterodoxa. Alckmin disse que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, que não conta com a simpatia dos investidores, também participará da transição de governo, provavelmente em outros conselhos.

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, afirma que, apesar da queda do dólar hoje, o ambiente ainda é de muita cautela. "Alckmin anunciou participantes da equipe de transição, mas não temos os nomes para os ministérios nem uma definição sobre como será a condução da política fiscal daqui para frente", afirma Quartaroli, acrescentando que ainda há muito ruído em torno da chamada PEC da Transição.

Alckmin disse que há várias possibilidades para assegurar recursos para promessas de campanha de Lula, como o Auxílio Brasil de R$ 600 (com acréscimo de R$ 150 para famílias com crianças menores de seis anos) e o aumento real do salário mínimo. "A definição se vai ser PEC ou não, o valor e o formato será tomada nos próximos dias", disse. "Podem ser outros caminhos. O TCU tem outra hipótese, de crédito extraordinário. Tem o Judiciário Outras alternativas".

Mais cedo, fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que aliados de Lula no Congresso teriam sido avisados de que o petista decidiu bancar a PEC da Transição. Nas mesas de operação, há temores de que o governo eleito infle demais os gastos que serão incluídos na emenda constitucional. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que estão na mesa duas alternativas para a configuração final da PEC de transição, apelidadas de "PEC transparente" e "PEC prática" – ambas abrindo espaço para despesas extrateto de cerca de R$ 175 bilhões. A "PEC transparente" traria detalhes do caminho do dinheiro, ao passo que a "PEC prática" carimbaria apenas os recursos para o Auxílio Brasil.

"Existe o temor de que a PEC seja uma licença para Lula romper o teto dos gastos como bem entender, até acabando, na prática, com a regra do teto", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, para quem a volatilidade deve continuar a dar o tom aos negócios no mercado de câmbio.

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