O dólar abriu a semana em baixa no mercado doméstico de câmbio, voltando a testar o patamar de R$ 5,15, em meio ao avanço dos preços das commodities na esteira de anúncio de estímulos monetários na China. Houve relatos de entrada de fluxo externo e movimento de ajustes e realização de lucros, dado que a divisa fechou a semana passada com alta de 2,10%. Operadores ressaltam, contudo, que a ausência dos mercados americanos, fechados pelo feriado do Dia do Trabalho nos EUA, deprimiu a liquidez e deixou a formação da taxa de câmbio mais suscetível a negócios pontuais.
Afora uma alta esporádica e bem limitada nos primeiros minutos do pregão, quando registrou a máxima da sessão (R$ 5,1904), o dólar operou em baixa ao longo de toda o dia. À tarde, renovou sucessivas mínimas, flertando com rompimento do piso de R$ 5,15, ao tocar R$ 5,1507 (-0,66%). No fim, a divisa era cotada a R$ 5,1540, em baixa de 0,59%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para outubro apresentou giro deprimido, inferior a US$ 8 bilhões.
"O que está impactando o dólar hoje é mesmo essa alta mais forte das commodities. Parece que existe um fluxo bom para a Bolsa ajudando o câmbio", afirma o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, ressaltando que a liquidez esta muito reduzida. "A única coisa que podemos prever para o câmbio é muita volatilidade. Além das questões externas, temos um período conturbado com as eleições".
No exterior, o dólar subiu em relação a moedas fortes, em especial o euro, que atingiu o menor nível em 20 anos, abalado pela crise energética na Europa. A estatal russa Gazprom interrompeu o fornecimento de gás ao continente por meio do gasoduto Nord Stream 1 por tempo indeterminado pretextando necessidade de manutenção. A Europa sofre com a combinação de perda de fôlego da atividade com inflação recorde.
O PMI Composto da zona do euro, que abrange indústria e serviços, caiu para 48,9 em agosto, o menor nível em 18 meses. As vendas no varejo na região subiram 0,3% em julho em relação a junho, abaixo do esperado (+0,4%). Na comparação anual, houve retração de 0,9%. Apesar do temor de estagflação, especula-se que o Banco Central Europeu possa anunciar, na quinta-feira, 8, alta da taxa de juros em 75 pontos-base. Também na quinta-feira o mercado vai monitorar discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, para calibrar as apostas para o tamanho do ajuste monetário nos EUA.
Em relação a divisas emergentes e de exportadores de commodities, o dólar teve comportamento misto, com queda na comparação com real, rand sul-africano e o peso colombiano. Na contramão, apareciam o peso mexicano e o chileno, que reverteu os ganhos vistos mais cedo, atribuídos ao fato de a população chilena ter rejeitado, em plebiscito, a nova Constituição.
Commodities metálicas como cobre e minério de ferro apresentaram alta firme, insufladas pelo corte da taxa de compulsório bancário em 2 pontos porcentuais, para 6%, pelo Banco do Povo (PBoC, o banco central chinês). O recuo do PMI composto da China de 54 em julho para 53 em agosto alimenta a visão de perda de fôlego do gigantes asiático, embora leituras acima de 50 ainda indiquem expansão.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que o desempenho da atividade na China, embora ainda positivo, dá sinais de que está perdendo força, refletindo bloqueios relacionados à política de Covid-zero e à queda do setor imobiliário. A recuperação das commodities, em particular o petróleo, contribuíram para o recuo do dólar nesta segunda, mas há certa rigidez "para baixo", com desaceleração do fluxo externo e "risco de correção dos mercados acionários nos EUA ao longo de setembro", afirma Velho.
Achatados na semana passada, os preços do petróleo subiram com força nesta segunda após o grupo que reúne países exportadores (Opep+) anunciar retomada, em outubro, dos níveis de produção de agosto – o que significa um corte de 100 mil barris por dia na oferta do óleo. O contrato do Brent para novembro – referência para Petrobrás – fechou em alta de 2,93%, a US$ 95,75 o barril.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que a moeda brasileira encontra certo suporte no aumento da internalização de recursos para exportadores. "Seguem firmes os drivers sempre mencionados de diferencial de juros e, principalmente de crescimento, tendo em vista a divulgação do PIB do segundo trimestre, que sacramentou crescimento superior a 4% anualizados no primeiro semestre do ano, contra a forte desaceleração da economia global nesse período", afirma a economista, em relatório.