Estadão

Dólar cai 0,89%, para R$ 5,2508, com movimento de correção e commodities

Após se aproximar na quarta-feira de R$ 5,30 e fechar no maior nível desde 5 de janeiro de 2023, o dólar apresentou queda firme na sessão desta quinta-feira, 6. Operadores afirmam que a alta de commodities e o sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior abriu espaço para movimento de correção e desmonte de posições cambiais defensivas. Houve também relatos de internalização de recursos por parte de exportadores para aproveitar as cotações mais altas.

Tirando um avanço pontual e bem limitado pela manhã, quando se aproximou de R$ 5,31 na máxima (R$ 5,3082), o dólar à vista operou em baixa no restante da sessão. Com mínima a R$ 5,2414, a moeda encerrou o dia em queda de 0,89%, cotada a R$ 5,2508.

Na quarta, na B3, as posições compradas (que ganham com a alta da moeda americana) de estrangeiros em derivativos cambiais atingiram novo recorde histórico, superando US$ 73 bilhões.

O real se destacou nesta quinta entre as divisas emergentes e de exportadores de commodities mais relevantes. Entre os pares latino-americanos, o peso chileno avançou com os ganhos do cobre. Já o peso mexicano, que na quarta esboçou uma recuperação, nesta quinta voltou a sofrer, com queda de quase 2% na comparação com o dólar. Há receios de mudanças constitucionais no México após a candidata governista Claudia Sheinbaum vencer a eleição presidencial e conquistar ampla maioria no Congresso.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, há uma correção de certo exagero na depreciação de ativos domésticos em geral nas últimas semanas. Já fragilizado ao longo de maio em razão da piora do quadro fiscal, o real se depreciou mais nos pregões de terça e quarta com o aumento da incerteza com eleições em países emergentes, como o México.

"Hoje você tira um pouco desse exagero, com alguma ajuda de commodities. Eu já via o câmbio depreciado demais em R$ 5,15 e R$ 5,20, apesar do aumento de prêmio de risco doméstico", diz Lima.

Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes, o índice DXY operou em leve queda e rondava os 104,100 pontos no fim da tarde. Apesar do corte de taxas de juros pelo Banco Central Europeu, o euro ganhou força com o tom conservador do BCE, que elevou as projeções de inflação e não se comprometeu com novos cortes.

Nos Estados Unidos, as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em setembro se consolidaram acima de 60%, na esteira de dados nesta semana (relatórios Jolts e ADP) sugerindo moderação do mercado de trabalho. Nesta quinta, números semanais de pedidos de auxílio-desemprego superaram as expectativas.

Na sexta, 7, sai o relatório oficial de emprego (payroll) referente a maio, indicador-chave para refinamento das apostas em torno da política monetária americana. Por ora, as chances são maiores de uma redução acumulada de 50 pontos-base da taxa básica neste ano.

O economista-chefe da Western Asset pontua que a sequência de dados mais fracos de atividade nos EUA não apenas afastaram os temores de mais aperto monetário como sugerem que há espaço para o Fed começar a reduzir os juros em algum momento neste ano.

"Uma diminuição da incerteza nessa questão do processo os juros nos EUA pode tirar parte da pressão sobre as divisas emergentes e o real", diz Lima, acrescentando que a moeda brasileira pode se beneficiar também de uma recuperação da credibilidade do Banco Central, caso haja uma decisão consensual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste mês. "Uma votação unânime e alinhada ao objetivo de busca a meta de inflação em 2025 pode ajudar o real".

Em evento em São Paulo, o diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, buscou minimizar o significado da divisão entre diretores do Copom em maio e afirmou que a desancoragem da expectativas de inflação coloca a gestão da política monetária em situação "mais delicada".

"Estamos indo sem um guidance para a próxima reunião, abertos às possibilidade que existem", disse Galípolo, um dos quatro diretores indicados pelo governo Lula que votou por redução maior (0,50 ponto porcentual) da Selic em maio, quando a maioria optou por corte de 0,25 ponto.

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