O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 27, em queda firme no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por baixa da moeda americana na comparação com divisas emergentes e valorização de commodities como minério de ferro e petróleo. Operadores relataram entrada de fluxo para a Bolsa doméstica, que voltou a superar os 131 mil pontos, e provável desmonte de posições defensivas no mercado futuro.
Com sinal negativo desde a abertura dos negócios, sob influência externa e da leitura do IPCA-15 de fevereiro, o dólar rompeu o piso de R$ 4,95 já no fim da manhã. A divisa acentuou o ritmo de baixa ao longo da tarde, em meio a máximas do Ibovespa e das cotações internacionais do petróleo, e chegou a romper o piso de R$ 4,93 na mínima (R$ 4,9290). No fim do dia, o dólar à vista recuava 0,97%, cotado a R$ 4,9330. Com queda de 1,20% nos dois primeiros pregões desta semana, a moeda passou a apresentar leve baixa em fevereiro, de 0,09%.
Ao contrário das sessões anteriores, houve boa liquidez. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para março movimentou quase US$ 14 bilhões. Segundo operadores, além de redução de posições compradas para realização de lucros, após a divisa ter se aproximado de R$ 5,00 no fim da semana passada, há sinais de rolagem de posições típicas de fim de mês e de preparação para a disputa pela formação da última taxa ptax de fevereiro, na quinta-feira, 29.
Segundo o head da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, o real parece ter se beneficiado hoje do avanço mais forte do minério de ferro e do petróleo, além de algumas commodities agrícolas, como milho e trigo. "Tirando as commodities, não vejo um fator para a queda mais forte do dólar. Parece algo mais relacionado a fluxos para o país", afirma Weigt, que mantém uma visão positiva para o desempenho do real neste ano. "O real apresentou desvalorização maior que a do peso mexicano desde dezembro, oscilando em um intervalo mais curto, e hoje parece se recuperar".
Investidores aguardam a divulgação amanhã, 28, da segunda leitura do PIB americano no quarto trimestre de 2023 e, sobretudo, o resultado do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), na quinta-feira, 29, para calibrar apostas em torno do início e da magnitude de eventual corte de juros pelo Federal Reserve.
Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA-15 acelerou de 0,31% em janeiro para 0,78% em fevereiro, abaixo, contudo, da mediana das estimativas de Projeções Broadcast (0,82%). O item educação, com alta de 5,07%, teve impacto de 0,30% no resultado do IPCA-15. Apesar da leitura benigna do índice cheio, analistas chamaram a atenção para a aceleração da média dos núcleos e da inflação subjacente
Em todo caso, o IPCA-15 confirma a tendência do processo de desinflação, o que ratifica a perspectiva em cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.
"O IPCA-15 veio abaixo do esperado e muito influenciado ainda por educação, o que, ao lado da alta das commodities, animou os investidores e fez os ativos domésticos terem um bom desempenho", afirma o trader e especialista em dólar da Genial Investimentos, Luan Aral, ressaltando investidores estrangeiros podem estar recompondo parte de suas posições na Bolsa doméstica, depois de terem retirado mais de R$ 11 bilhões da B3 em fevereiro, até o dia 23.