Depois de dois pregões seguidos de alta, em que esboçou voltar ao patamar de R$ 5,70, o dólar à vista fechou em queda firme na sessão desta terça-feira, 7, dia marcado por forte apetite global por ativos de risco.
O arrefecimento dos temores de desaceleração da economia global relacionados ao espraiamento da variante ômicron (que não parece provocar casos graves de covid-19) e dados positivos da balança comercial da China – cujo governo se mostra disposto a irrigar o mercado de liquidez – animaram os investidores, deixando em segundo plano a iminência da redução de estímulos monetários pelo Federal Reserve.
Operadores destacam que a apreciação do real poderia até ter sido maior quando se leva em conta o ambiente externo positivo, com alta firme das bolsas em Nova York e avanço da maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, na esteira da valorização do petróleo e do minério de ferro.
A cautela com o quadro doméstico – em meio à piora das projeções econômicas e ao impasse na promulgação da PEC dos Precatórios – a perspectiva de um dólar mais forte no mundo e a pressão de remessas típica de fim de ano impedem a taxa de câmbio de se situar no curto prazo abaixo de R$ 5,60. Isso apesar do processo de aperto monetário em curso, cujo próximo capítulo deve ser o anúncio, nesta quarta-feira (8), de mais uma alta da Selic em 1,50 ponto porcentual, para 9,25%.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, alinha-se ao consenso de que a Selic será elevada em 1,50 ponto porcentual amanhã, mas ressalta que o Copom vai "surpreender" parcela do mercado ao não se "comprometer com manutenção" do mesmo ritmo de alta. "Mas deverá reafirmar o compromisso inequívoco com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante", afirma Oliveira, em relatório.
Nas mesas de câmbio, a avaliação majoritária é que o efeito do aperto monetário já está refletido na taxa de câmbio e que não se deve esperar, portanto, um arrefecimento maior do dólar mesmo com eventual aumento do diferencial entre juro interno e externo.
Com uma aceleração da queda na última hora de negócios, quando registrou a mínima da sessão (R$ 5,6153), o dólar à vista fechou em baixa de 1,27%, a R$ 5,6183. Operadores ressaltam que, mais uma vez, a liquidez foi bem reduzida. Principal termômetro do apetite para os negócios, o contrato de dólar futuro para janeiro movimentou cerca de US$ 10 bilhões.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, vê o dólar trabalhando em uma faixa entre R$ 5,60 e R$ 5,70 no curto prazo. Quando a taxa se aproxima da banda superior, há entrada de exportadores e movimentos de realização de lucros. Em contrapartida, diz Galhardo, não há convicção suficiente para a redução mais expressiva de posições defensivas, o que faz com que a taxa de câmbio se mantenha acima de R$ 5,60.
"O dólar tentou romper hoje os R$ 5,60, mas não conseguiu. Ainda temos essa questão da PEC dos Precatórios no radar, com esse cabo de guerra entre a Câmara e o Senado", diz Galhardo, ressaltando que o mercado ainda continua com o pé atrás diante da possibilidade de mais aumento de gastos com a proximidade das eleições presidenciais em 2022. "E o período de fim de ano é de procura maior por dólares, com remessas de bancos, o que deixa a taxa de câmbio mais pressionada."
Hoje à tarde, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que o fatiamento da PEC dos Precatórios, com promulgação das partes comuns aprovadas nas duas casas do Congresso, não está descartado e citou 22 de dezembro como prazo limite para a promulgação da PEC – essencial para dar previsibilidade ao Orçamento de 2022.
Pacheco afastou, contudo, o risco de que o impasse em torno da PEC atrase o pagamento do Auxílio Brasil neste mês. Medida Provisória preparada pelo governo garantiria o valor de R$ 400 do benefício social em dezembro, dando mais tempo para o Congresso resolver o imbróglio da PEC.
Pela manhã, o Banco Central vendeu a oferta total de 15.000 contratos (US$ 750 milhões) em leilão realizado para rolagem de vencimentos programados para fevereiro. Foi o primeiro leilão de rolagem dos contratos com vencimento em 1º de fevereiro de 2022, que totaliza 179.615 contratos de swap (US$ 9,0 bilhões). O BC já indicou a intenção de promover a rolagem integral.